Sunday, February 27, 2005

Blame it on Demi


Dos anos 60 aos 80, era mais divertido assistir à entrega dos Oscars. Atrizes de Hollywood davam um show de mau gosto em seus modelitos, desde o terno masculino com botinas de Diane Keaton em 1978, passando pelo prom dress rosa da já entrada em anos Elizabeth Taylor em 1987, e chegando aos paetês e lantejoulas de Cher, cujo estilo fashion sempre é uma cruza de drag queen com madrinha de bateria. O ápice da breguice foi ano de 1989, quando a então megastar Demi Moore apareceu numa monstruosidade de sua própria criação (foto) , que mais lembrava um corpete ou malha de ginástica, acompanhado por uma capa de brocados multicoloridos. Nesse mesmo ano, Kim Basinger também criou seu próprio fashion faux pas, um vestido branco com uma manga só, enquanto Jodie Foster apareceu com um vestido lilás comprado numa loja de departamentos, que mais lembrava uma roupa de bridesmaid. A noite, que era desde os anos 30 o símbolo do glamour hollywoodiano, tinha se transformado em piada. A Academia, então, resolveu tomar as rédeas da situação e em 1991 contratou uma diretora de moda, responsável por ligar para todos os apresentadores e candidatos ao Oscar e colocá-los em contato com estilistas e designers, para garantir a volta do bom gosto ao red carpet. Não é à toa que, hoje, até atrizes bicho-grilo como Julia Roberts e Kate Hudson se transformam em deusas de vestido longo e brilhantes na noite do Oscar. Diane Keaton, ano passado, também apareceu de terno, mas num modelo super sofisticado. Para a jornalista Julia Turner, da Slate, o domínio dos estilistas acabou tornando o Oscar chato, previsível, e com as mulheres vestidas sempre igual. De qualquer forma, num mar de Armanis, Versaces, Diors e Vera Wangs sempre haverá uma Bjork vestida de ganso morto, ou uma anoréxica Lara Flynn Boyle com tutu de bailarina para nos divertir.

Update frívolo pós-Oscar: Minhas preferidas desse ano foram Kate Winslet, Halle Berry e Charlize Theron, pois acertaram na cor, no modelo dos vestidos, e estavam lindas de rosto e cabelo. Gwineth Paltrow estava linda, mas achei que o vestido tava amassando muito o peito dela. Natalie Portman ousou no quesito moda e acertou; pena que a cor do vestido era meio sem graça, mesmo problema da Cate Blanchett, que de amarelo ficou um pouco apagada, apesar de o vestido ser lindíssimo. Gisele Bundchen também apostou alto demais e perdeu, com aquele vestido-bata alado. Ela estava com o rosto e cabelos deslumbrantes como sempre, mas seu modelito teria feito mais sucesso em 1972. Scarlet Johansson costuma me agradar mais, mas esse ano o vestido preto meio desestruturado não lhe caiu bem, engordou até. Hillary Swank não me convenceu. Aquele vestido fechadão de viúva na frente, e decotado até o rego atrás... Não fez o meu gênero. A maquiagem dela tava amarela. E a Renée Zellwegger, tava feia demais de rosto, parecendo máscara de teatro japonês, e o corpo magro demais, ao mesmo tempo musculoso, não combinou muito com o vestido va-va-voom vermelho.

Passando agora para a política da cerimônia, acho que o Chris Rock não voltará mais a ser convidado para apresentar o Oscar. A saia justa não foi nem ele defender Farenheit 9/11 e sacanear o Bush (o que eu adorei, claro), mas ele criticar o Jude Law como mero arroz de festa e incapaz de sustentar um blockbuster, para uma platéia de Hollywood que simplesmente endeusa o ator britânico. O Sean Penn ficou tão puto que antes de apresentar um dos prêmios fez questão de dizer que Jude Law era um dos melhores atores dessa geração. Chris Rock foi engraçadíssimo em vários momentos, como nas entrevistas pré-gravadas com o público negro em cinemas americanos, mas ainda assim ficou patente a inadequação dele como apresentador do Oscar quando fizeram um tributo ao falecido Johnny Carson, mostrando clips dele na mesma função. O cara tinha um humor sofisticado, que era às vezes ácido mas não diretamente ofensivo a ninguém. Realmente, é difícil achar alguém que se compare a Carson hoje em dia. Letterman foi fraco como apresentador, Billy Cristal é um chato, e ótimos atores e comediantes como o próprio Rock, Robin Williams, Jim Carrey, Steve Martin e Whoopi Goldberg são espalhafatosos demais.

Friday, February 25, 2005

Rio para turistas "hip"

O caderno de turismo do New York Times foi reformulado. A linha editorial agora é mostrar o lado "hip" de cidades do mundo inteiro, para que o turista nova-iorquino já chegue sabendo onde encontrar os lugares freqüentados pela galera mais descolada. A matéria que saiu no último caderno Travel sobre o Rio de Janeiro, por exemplo, mostra o repórter Seth Kugel se misturando à juventude carioca, seja num dia de sol na Praia de Ipanema, numa noitada no Baixo Gávea ou num ensaio da Mangueira. Seth sabe que a Discoteca Help, freqüentada por prostitutas, e a praia de Copacabana são para turistas manés. Ele faz amizade com meninas da Zona Sul, que indicam lugares como o bar Jobi do Leblon e o Semente da Lapa. Conhece a noite da Barra, num tal de Rosa Shopping que nem existia quando eu deixei o Rio em 2000, e vai parar no Sky Lounge (parece que tudo agora no Rio é "láunge"). E conversa com outros americanos seduzidos pelo estilo de vida e beleza do Rio de Janeiro, que acabam voltando sempre ou querendo ficar o maior tempo possível. Comparada com 99% das matérias que saem sobre o Rio de Janeiro, achei que Seth Kugel mandou bem, chegando bem próximo à realidade sobre a vida social da zona Sul carioca. Coisa que o Larry Rohter, como correspondente do NYT morando no Rio há um tempão, nunca conseguiu.

Thursday, February 24, 2005

Preparando a pipoca

Quando a premiação do Oscar estiver sendo transmitida na TV este domingo, estarei me juntando à torcida da Fezoca e do José Wilker contra o Leonardo Di Caprio. Não que ele seja de todo ruim, mas acho que foi miscast para o complexo papel de Howard Hughes em Aviator. Leo está numa fase meio limbo; ele já não é mais ídolo das adolescentes, mas também ainda não chegou à galeria dos atores que não precisam fazer força para provar que são capazes de encarnar um papel sério -- qualquer papel --, como Sean Penn, Don Cheadle, Tim Robbins, Kevin Spacey ou Benicio del Toro.

Wednesday, February 23, 2005

Que meda!


Esta e as demais fotos abaixo foram tiradas por moradores de subúrbios e regiões rurais a noroeste de Sacramento, que presenciaram o tornado de segunda-feira. Lá em casa, nem choveu, mas deu para ver umas nuvens sinistras ao norte. Tornados são incomuns na California; nesses quatro anos e meio que estou aqui, é a primeira vez que acontece de um funil desses chegar ao chão. Para brasileiros como eu, que nunca viram um tornado de perto, essas fotos são impressionantes, mas sei que não passou de um tornado-bebê, fichinha perto do que acontece todos os anos no Midwest americano. So what, prefiro nunca estar na mira de nenhuma dessas nuvens-funil!


Em pleno feriado, nenhuma alma viva se arriscou a continuar no lago ou mesmo do lado de fora das casas.


Não sei o que dá mais medo, aquele funil descendo, ou aquela parte quadrada da nuvem mais atrás.

Sky nannies

Está chegando a época do ano em que começo a me preparar para minhas férias anuais no Rio de Janeiro. O final de maio ainda está bem longe, mas ainda assim tenho que pedir permissão à chefia, reservar passagem, e acima de tudo me preparar psicologicamente. Sim, porque agora estarei viajando com um filhote que terá então 1 ano e 8 meses, e não pára quieto no lugar, adora correr e não gosta de ficar sentado a não ser para comer. Ano passado foi fácil, pois ele ainda não andava, mas ainda assim na fase diurna do vôo ele quis ficar boa parte do tempo de pé no meu colo. Mas esse ano, vai ser um desafio. Pena que a única airline do mundo que ofereça uma nanny para crianças em vôos seja a Gulf Air, uma empresa britânica que serve o Oriente Médio. Que inveja. Esse serviço deveria ser copiado por todas as outras empresas aéreas. Afinal, criança feliz e sem chorar no vôo = todos os outros passageiros tranqüilos e satisfeitos. A sky nanny ajuda não só crianças que voam sozinhas, mas também aquelas que estão acompanhadas dos pais, mas estão entediadas e irriquietas. Fora que a babá aérea fica tomando conta da criança quando o pai ou a mãe que estão viajando sem companhia adulta vão ao banheiro. Se já é difícil se equilibrar sozinho num banheiro de avião, tente fazer isso segurando um bebê ou acompanhado por um toddler que quer mexer em tudo.

As babás da Gulf Air passam pela Norland College, que é famosa na Europa por oferecer o melhor treinamento do mundo para au pairs. Além de psicologia infantil, um dos itens mais importantes do curso é como manter uma criança entretida num espaço mínimo, como por exemplo, confinada a um assento de avião durante horas seguidas. Putz, será que eles oferecem esse curso por correspondência?

Monday, February 21, 2005

Essas vozes não vão se calar


Este simpático casal da foto está sendo alvo do ódio da direita em Sacramento e, devido à exposição na mídia nacional, já recebeu hate mail e ameaças de fascistas de todo o país. Advogados atualmente praticando em Berkeley, eles passam o fim de semana em sua hometown Sacramento, no bucólico bairro de Land Park. Desde o início da guerra no Iraque, os Pearcys exibem alguma forma de arte-protesto na frente de sua casa, além de bandeiras do Iraque e da Palestina nas janelas. A maior parte da vizinhança, sendo democrata, nunca os importunou. Mas os dois vizinhos republicanos, reacionários, no lado direito da casa e do outro lado da rua, ficaram furiosos quando o casal colocou, no início do mês, um boneco de um soldado, pendurado por uma corda, com a inscrição "Your tax dollars at work". Além de contatarem o FBI, a prefeitura e outras autoridades, tentando inutilmente fazer com que proibissem o casal de continuar usando a sua liberdade de expressão, os vizinhos de direita resolveram chamar as redes de TV locais para expor a sua revolta contra o display dos Pearcys. Isso aconteceu durante a semana, quando o casal estava trabalhando em Berkeley. Em menos de duas horas, um grupo de manifestantes raivosos se juntou diante das câmeras da TV, e um rapaz subiu no telhado da casa para arrancar o boneco do soldado. Naquele mesmo dia, um programa conservador de rádio começou a incitar os ouvintes a continuar protestando contra o casal de Land Park. Mesmo as matérias nas redes mainstream de TV tendiam mais para o lado dos direitistas revoltados, que consideraram a imagem do soldado pendurado um desrespeito às tropas. É justamente o contrário, afirma Stephen Pearcy. "Our display was intended as an accurate portrayal of what is occurring, that the Bush administration is leaving American soldiers out to hang and that our tax dollars are being used to send Americans to Iraq, and that they are dying there. We know that many free speech advocates and other friends 'on the left' would not find our message tasteful, but we suspect that most will agree that we should not be silenced by the right." Então, quando voltaram de Berkeley no dia 12 de fevereiro, os Pearcys colocaram outro soldado na frente da casa, desta vez com a inscrição "Bush lied, I died". As TVs voltaram a montar guarda na frente da casa, e obviamente outros fascistinhas querendo aparecer arrancaram mais esta imagem do soldado. Um grupo de extrema-direita, Move America Forward, convocou uma vigília noturna na porta da casa para o dia 15 de fevereiro. Os Pearcys contactaram uma série de entidades de defesa das liberdades civis e logo formou-se um protesto anti-vigília. Na noite do dia 15, a polícia teve que separar os grupos em cada lado da rua para que não saíssem na pancadaria. Ficou uma guerra de gritos. "Remember the Towers", gritou um imbecil do lado da vigília. "Os iraquianos não tinham NADA a ver com o ataque de 11/9", respondia o pessoal do Free Speech. "Se vocês não gostam desse país, vão embora daqui", gritou uma mulher entre os reaças. O outro lado respondeu com gritos de "nazista" e "seus McArthistas!" Total circo. Nesse fim de semana, o Peter, que tinha ido na manifestação anti-vigília, me levou para ver a casa de Land Park. Stephen estava bem na frente, cuidando do jardim e colocando uma nova arte protesto. Era uma pintura de um mapa dos EUA, colorido com as cores e estrelas da bandeira, entrando numa privada. "Thank you Mr. Bush" era a inscrição. Puxamos conversa com Stephen, e ele foi uma simpatia, educadíssimo, enquanto comentávamos os acontecimentos da última semana. Ele nos contou que recebeu uma carta de uma mulher de Maryland, dizendo-se uma cristã, mas terminando a carta desejando que o filho dele acabasse igualzinho ao boneco do soldado dependurado. Logo chegou um câmera de uma TV local. Peter e eu quisemos deixá-lo à vontade para atender o repórter, mas antes Stephen nos convidou para, quando estivermos na vizinhança de novo e virmos o carro dele na driveway, bater na porta da casa dele para fazer uma visita. Despedimo-nos desejando a ele coragem, boa sorte e cuidado com os truculentos que podem tentar ameaçar a família dele.

Sunday, February 20, 2005

Lixo político

O blog do João Ximenes, colunista de O Globo, traz uma lista de projetos-de-lei já apresentados pelo novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE). Este troll brasileiro pretende proibir o aborto até quando isso seja necessário para salvar a vida da gestante, ou em caso de gravidez por estupro. Que contraste com o candidato perdedor à presidência da Casa, deputado do PT-SP Luiz Eduardo Greenhalgh, um incansável defensor das liberdades civis, dos direitos humanos e trabalhistas.

Thursday, February 17, 2005

A sereia sem peitos

Num raio de apenas cinco milhas da minha casa, há 26 Starbucks. Decidi fazer o teste no store locator da marca depois de topar com esse blogueiro comentando que há 43 lojas da marca num raio de cinco milhas da casa dele, e desafiando todos a fazer o mesmo, até encontrar a densidade máxima de Starbucks num bairro americano. Por enquanto, o recorde é de 170 lojas da Starbucks só na região da Broadway em Nova York. Comparada a esse número, a densidade próxima da minha casa pode ser considerada baixa, mas ainda assim, 26 Starbucks num bairro só já esmaga qualquer tentativa de concorrência das lojas locais. Não é à toa que já existem até sites de ódio ao Starbucks, como este aqui e este outro, reclamando não só da massificação e do monopólio corporativo da empresa, quanto da presunção da marca de ser hip, ecológica e politicamente correta. Aliás, se você ler o excelente verbete sobre o Starbucks na Wikipedia, vai constatar que há uma série de reclamações trabalhistas contra a empresa, incluindo uma greve dos baristas em maio de 2004, em Nova York. Outra curiosidade é que o logotipo original da cadeia de lojas - fundada em 1971 em Seattle -, era uma sereia com os seios e o umbigo à mostra. À medida que a cadeia foi se alastrando pelo país, a empresa optou por cobrir os seios da sereia com os cabelos, e hoje em dia até o umbigo sumiu.

Não é que eu odeie a Starbucks. Eu até sou fã do Café Mocha deles, tem bastante gosto de chocolate, sem ser enjoativo, e não deixa um gosto amargo no final. Mas eu vou lá porque não há nenhuma opção de café local a uma distância a pé da minha casa. Para eu ir nos cafés locais mais charmosos, com café bom de verdade e ambientação singular, só pegando o carro e mesmo assim em fins de semana, quando tenho tempo para isso. O Starbucks já montou inclusive banca em todos os supermercados daqui da cidade, servindo tudo o que vende nas lojas. A impressão é que, para qualquer lado que você olhe, você verá a Sereia sem Peitos.

Fiquei pasma em saber que a Starbucks é dona até de outras cadeias de café que antes eram independentes, como a Torrefazione Italia - que eu pessoalmente gosto muito mais que Starbucks, mas infelizmente não tem nenhuma na minha cidade, a mais próxima é em San Francisco, embora a maravilhosa bakery Ciocolat, em Davis, ofereça café dessa marca. A Torrefazione serve o café em xícaras de porcelana, pintadas à mão por artistas italianos, uma experiência bem mais agradável do que tomar sua bebida num copo de papelão. E o café da Torrefazione é mais gostoso também, sem aquele gosto de queimado do Starbucks.

O sucesso e a massificação da Starbucks, de qualquer forma, prova que o americano é viciado em café. É capaz de pagar 5 dólares por um latte tamanho grande, quer dizer, "venti" e sair de lá tomando a bebida em seu copo de papel feliz da vida. Hoje em dia há vários Starbucks drive-trus, onde a pessoa, em vez de fazer café fraco em casa, prefere pegar o carro e ficar esperando na fila pelo espresso que irá beber no engarrafamento ou quando chegar no escritório. É um comportamento bem diferente do tomador de café brasileiro, que ama sua pequena demitasse de porcelana, saboreada devagarzinho com pão com manteiga de manhã, ou como digestivo após o almoço, acompanhado de um biscoito amanteigado ou trufa de chocolate. Mesmo assim, o vício é o mesmo. Não sei se já tem Starbucks no Brasil (os caras já têm 2573 lojas fora dos Estados Unidos), mas não duvido que a cadeia já tenha o nosso país em seus planos de expansão global, e que, uma vez invadidos pela Sereia, os brasileiros acabem cegamente encantados também. Só acho que, para fazer sucesso mesmo no Brasil, eles vão ter que melhorar o cardápio de bolos e biscoitos, e introduzir salgadinhos, como pão de queijo. Eu fico louca aqui nos EUA, de entrar num café e não ter uma opção de salgadinho, é só café e doces.

Tuesday, February 15, 2005

Tietagem com o Governator

Repórteres que cobrem as notícias políticas do governo da California em Sacramento não estavam muito acostumados em ficar lado a lado com megacelebridades de Hollywood. Mesmo assim, isso não é desculpa para a falta de profissionalismo desses jornalistas, quando eles mal conseguem disfarçar a tietagem diante do dublê de ator e governador Arnold Schwarzenegger. Veja a recente pergunta de um repórter da rádio KZLA de Los Angeles ao Governador: "O senhor usa os ternos mais lindos que eu já vi. Eles são feitos sob medida ou comprados em loja? (...) Eles têm um caimento perfeito." Também são constantes as perguntas como "o senhor tem saudade do cinema?", ou "vai participar do Exterminador do Futuro 4?". Claro que sempre há espaço para perguntas leves além da rotina da agenda política, mas a gente nota na cobertura do governo Schwarzenegger um tratamento muito mais suave e adulador do que o tradicionalmente dado a outras figuras de background meramente político e administrativo.

Para a professora de Ciência Política e Comunicação Barbara O'Connor, da California State University Sacramento, a responsabilidade por essa cobertura excessivamente favorável não é tanto dos repórteres, mas sim do trabalho eficiente do time de relações públicas do governo Schwarzenegger. Devido ao status de celebridade deste governador, ele tem muito mais facilidade de escolher onde e por quem vai ser entrevistado. Muitas vezes, isso significa estações de rádio conservadoras e shows de entretenimento, como Jay Leno. E a mídia já percebeu que ele se sente muito mais à vontade respondendo sobre temas leves e sua carreira cinematográfica, do que sobre assuntos mais áridos da administração do Estado. Mais detalhes nesta matéria de hoje do San Francisco Chronicle.

Saturday, February 12, 2005

Mídia na coleira

Um excelente resumo sobre os recentes escândalos de jornalistas que receberam propinas do Governo Bush para falar bem da administração (nem entendo por que os caras se deram o trabalho de pagar a pundits que já puxavam o saco do governo de graça) está aqui nesse artigo do Eric Alterman. O texto também é uma ótima reflexão sobre a right-wing media machine que atua como um braço desse governo e a passividade (ou cumplicidade?) dos meios comunicação legítimos diante dessa aberração.

Um dos casos mais chocantes até agora é o de Jeff Gannon, quer dizer, James Guckert, que conseguia passe para participar das coletivas da Casa Branca com nome falso e sem sequer representar um verdadeiro órgão jornalístico (era um republicano pago pela GOPUSA). Para esse sujeito conseguir uma credencial à qual só a nata do jornalismo americano tem acesso, só mesmo com a conivência do governo Bush. Veja este vídeo com a matéria do Keith Olberman, da CNN, mostrando o tipo de "perguntas" que o falso repórter fazia nas coletivas, depois de ser escolhido a dedo pelo presidente ou pelo porta-voz McLellan, passando-o à frente de outros repórteres nacionalmente reconhecidos, de empresas de comunicação legítimas (cortesia do SmithAntics). A história só foi exposta nacionalmente graças ao blogger Daily Kos e ao órgão Media Matters for America, que se indignaram e investigaram, cumprindo o dever que a mídia tradicional americana já se esqueceu há muito tempo de fazer. Kos revelou não só a fraude Gannon/Guckert, mas também descobriu que o cara mantinha websites pornô-gay-militares. O assunto explodiu e todos os blogs influentes de oposição ao governo contribuíram com informações e análises para não deixar morrer a história. Mesmo assim, a grande mídia contribuiu para jogar panos quentes sobre o escândalo, como você pode ver aqui nesse diálogo entre o capacho Wolf Blitzer, da CNN, e o outro puxa-saco de Bush, Howard Kurtz (CNN/Washington Post).

Wednesday, February 09, 2005

Lacinho divide as duas Américas

Primeiro, era apenas um carro de uma republicana no estacionamento do prédio onde eu trabalho. Aos poucos, comecei a ver essa praga grudada na parte de trás de veículos, com cada vez mais freqüência, nas ruas da cidade e freeways. Se você mora nos EUA, deve saber do que estou falando. É aquele ímã emborrachado em forma de laço amarelo, com a inscrição "Support our troops" -- mais um dos slogans apropriados pela direita americana para confrontar quem se opõe à guerra no Iraque. Aliás, já na época da guerra do Vietnam, os reaças tentavam passar a falácia de que protestar contra a guerra é o mesmo que criticar ou torcer contra as tropas americanas. Support our troops me irrita porque nada mais é que um eufemismo para Support the war. Se alguém trabalha contra as tropas, é o governo Bush, que mandou-as para morrer e serem mutiladas no Iraque por um motivo mentiroso (as weapons of mass destruction que comprovadamente nunca existiram). E os babacas que colam o yellow ribbon no carro me causam a mesma ojeriza, porque continuam enchendo a pança de comida no sofá, arrotando macheza, assistindo às suas corridas de Nascar ou jogos de football, votando no Bush, dirigindo seus gigantescos pick-up trucks e S.U.Vs -- contribuindo apenas para poluir o ambiente e gastar mais petróleo e aumentar a sanha de Cheney por pilhar os recursos do Iraque -- enquanto os pobres miseráveis de uniforme passam por maus bocados no Oriente Médio. Os milhares de soldados americanos mortos e os que continuam se borrando de medo lá em Bagdá agradecem com certeza o seu apoio de colocar essa porra de lacinho amarelo no seu carro. Support my ass.

"Ah", mas alguns de vocês podem dizer, "alguns dos lucros da venda do yellow ribbon vão para mandar uma comidinha extra para o pessoal servindo no Iraque". Putz, imagina a alegria do marine, que não vê uma comida caseira há dois anos, ao se deparar com uma porção extra de beef jerky ou aquela barra de chocolate Butterfinger que vai fazer o dente dele apodrecer e cair de vez lá no deserto.

O laço amarelo grudado no carro é uma lembrança constante da divisão em que o país se encontra. Os americanos que se opõem à guerra consideram o yellow ribbon praticamente um insulto. E já criaram alguns bumper stickers em resposta, como "Support the troops, not the war", ou "Support the Troops, Bring them home now". Tem até um site Anti-Magnet em geral, por considerar o uso dos ímãs inútil e mero exercício de auto-afirmação.

Tuesday, February 08, 2005

Iraque sem censura

Os americanos progressistas e de esquerda não se contentam com a versão da guerra do Iraque apresentada pela grande mídia nos Estados Unidos. Além de buscar informações em diários de cidadãos que vivem o dia-a-dia do Iraque, como o ótimo girl blog Bagdad Burning, eles também vão beber em fontes como o blog Informed Comment, do professor de História Juan Cole, da Universidade de Michigan, especializado em Middle East. Em posts como esse, mostrando que o Iraque provavelmente será regido pela lei islâmica, fato insistentemente negado por Dick Cheney, o professor Cole desconstrói as notícias publicadas na imprensa americana e as mentiras propagandeadas pelo governo Bush. Ele é "o" blog sobre a guerra do Iraque atualmente -- mais do que bias ideológico, Cole apresenta conhecimento profundo sobre o assunto e é capaz de esmagar qualquer republicanozinho que ouse debater com ele sem saber nada mais que os slogans propagados pela Fox News.

Friday, February 04, 2005


Howard Dean levantou, sacudiu a poeira e parece que vai dar a volta por cima. Ao que tudo indica, ele vai ganhar a presidência do Partido Democrata (Democratic National Comittee), na eleição que acontece próximo dia 12. Ele precisa de 224 votos dos 447 membros do Comitê, e já garantiu 250 intenções de voto.

Pra quem não lembra, Dean apareceu no início de 2004 como favorito nas primárias do partido para candidato à presidência dos Estados Unidos. Ele energizou a base ao se opor frontalmente à guerra no Iraque -- ao contrário dos democratas moderados --, movimentou a militância em todo o país e conseguiu uma quantia milionária de doações individuais através de blogs na Internet. Mas foi derrotado fragorosamente nas primárias, depois de uma campanha da mídia que tentou pintá-lo como o radical que ele não é.

Agora, as mesmas bases que queriam Dean como candidato para enfrentar Bush estão em campanha para que ele se torne o chairman do Partido, e injete energia nos Democratas, que não estão conseguindo levar sua mensagem de forma contundente ao público americano e permitiram que o chimpanzé Bush ganhasse a presidência pela segunda vez. Ao contrário dos democratas moderados e conservadores, Dean não acha que a resposta para o Partido é ficar mais parecido com os republicanos para ganhar a eleição, e sim saber mostrar como e por que o programa democrata é melhor. Dean promete ser incansável na presidência do partido para evitar a vitória de qualquer republicano em qualquer dos 50 estados do país. Quer ganhar mais espaço entre os eleitores latinos e rurais. Aumentar o recrutamento de novos talentos políticos e a filiação partidária, bem como a presença do partido em comunidades locais. Reforçar o marketing do partido de forma a rivalizar com a atual máquina republicana, que tem conseguido dominar os espaços na mídia.

Desejo boa sorte pra ele nessa eleição. Mas principalmente, que uma vez eleito, consiga implementar seus planos e tirar os republicanos do governo em 2008.

Update em 12 de Fevereiro: Howard Dean já é o chairman do DNC. Yeeeeeeeaaaaaaaah!!!

Wednesday, February 02, 2005

Shameless bastards

Isso é que é se promover às custas da coragem alheia. Hoje à tarde, os republicanos do Congresso estão combinando de pintar os dedos com tinta roxa, "em apoio aos eleitores do Iraque" e aparecerão assim na platéia do discurso sobre o State of the Union do Bush. Realmente, os iraquianos ficarão muito emocionados com essa demonstração de solidariedade por parte do G.O.P. Afinal, eles passam o dia-a-dia enfrentando a ameaça de morrer seja sob ataque americano ou terrorista, enquanto esses calhordas republicanos lucram politicamente e financeiramente com o que arrancam do Iraque, seja em forma de uma cobertura vergonhosamente pró-Bush da guerra e da eleição na mídia americana, seja em forma de investimentos na indústria do petróleo ou da "reconstrução" do país.