Food for thought
Minha atitude diante da comida americana é de desânimo. Certo, já moro aqui há tempo suficiente para saber onde encontrar os melhores e mais saborosos ingredientes, inclusive naturais e orgânicos, e os restaurantes e delis onde posso almoçar um pratão de comida em vez de sanduíche. Mas na maior parte do tempo a gente se depara, na casa dos outros ou em festas ou em restaurantes diversos, ou mesmo em livros de receitas, com uma comida de sabor pouco sofisticado, carregada de ingredientes artificiais e molhos fortes que escondem o gosto verdadeiro dos alimentos. A minha tragédia é que sou péssima na cozinha, e nunca consegui reproduzir as minhas receitas brasileiras preferidas do jeito que elas devem ser. Mas ainda insisto, especialmente porque preciso ensinar a meu filho que nem toda comida sai de dentro de caixas e latas. É, vai ser um grande desafio, já que os maiores anunciantes dos programas de TV infantis são redes de fast food, marcas de biscoito e chocolates... Fiquei horrorizada ao ver que mesmo o politicamente correto Sesame Street é patrocinado pelo McDonald's. Além disso, já comentei aqui num dos meus posts de meses atrás que o prato principal do almoço das escolas primárias americanas consiste em hot dogs, pizza, hamburger, chicken nuggets e outras nojeiras (veja alguns dos menus de breakfast e lunch aqui). Estou numa missão pessoal agora de me transformar de uma negação na cozinha para uma chef gourmet, pelo bem do meu filho.
Meanwhile, o feriadão de Thanksgiving desta quinta-feira é uma época em que americanos ficam obcecados por comida e cozinhar. A ceia obrigatória de peru assado, molho gravy, molho de cranberry, purê de batatas e outros legumes como brócolis, vagem e ervilhas, bem como as tortas de abóbora ou maçã na sobremesa, estressa quem não está acostumado a fazer um jantar que leva horas pra cozinhar, ou quem não está acostumado a fazer comida para muita gente. Todo ano é o mesmo papo. Colegas de trabalho perguntam: "você vai cozinhar a ceia?" E você tem que dar a mesma resposta mil vezes, ao que a colega retruca com sua própria história pessoal que não te interessa a mínima. Mas tudo bem, faz parte... Até o presidente dos EUA tem que perder tempo com uma tradição, desde 1947, de "perdoar" um peru que não será morto para virar ceia. Atualmente, o website da Casa Branca dedica várias páginas a esta babaquice, e agora há até uma votação pública para escolher o nome do peru a ser salvo da panela. Este ano, o sortudo foi Biscuits and Gravy.
Mas se essa ceia de Thanksgiving parece ser natural e saudável, pense duas vezes. Os perus são criados em verdadeiras fábricas, onde não têm espaço sequer para andar, procriam por inseminação artificial e recebem antibióticos. As tortas de abóbora dificilmente são feitas direto da fruta, geralmente compra-se purê de abóbora enlatado, e uma massa quase pronta que só precisa ir ao forno. Os legumes e molhos também muitas vezes vêm de latas. Mas mesmo comprar legumes e verduras no produce aisle do supermercado não é garantia de uma comida saudável. Um artigo hoje no New York Times defende que se preste atenção na origem dos alimentos, pois aves criadas livres (free range) e sem antibióticos, e legumes plantados de forma orgânica preservam muito mais nutrientes do que os feitos em escala industrial.
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