Saturday, January 29, 2005

Os meninos do Leblon vão olhar pra mim?

Descobriram que eu era míope quando eu tinha uns 10 anos. Sempre odiei usar óculos e evitei o máximo que pude. Só usava na escola para ver o quadro negro ou quando tinha que pegar ônibus. Mas o meu grau foi aumentando. Por sorte, inventaram as lentes de contato gelatinosas, que eu adotei aos 16 anos e usei até os 36. Mas volta e meia dava problema na minha lente, e eu precisava usar os detestáveis óculos, aquele estranho objeto na frente da minha cara, que me enfeava mesmo quando eu escolhia as armações mais hip do momento. Tive douradinhas, aro de tartaruga, estilo John Lennon e coloridas à la Herbert Vianna nos idos de 84. Tive também o estilo retrô-intelectual dos anos 60 de aro preto retangular. Mais ainda do que o dorky look, o que me incomodava nos óculos era a falta de liberdade. O óculos é como uma muleta, uma bengala. Se quebrar ou você perder, tá ferrado.

Em setembro passado, meu olho desenvolveu rejeição à lente de contato. Tive que passar a usar óculos 24 horas por dia. Xingava o maldito cada vez que me esquecia e tirava um suéter turtleneck justinho e o óculos vinha junto, arranhando a minha cara. Então tomei coragem e resolvi fazer a correção da miopia a laser. Um pouco apreensiva, fiz a cirurgia ontem. Embora você não sinta dor, não vou negar que a coisa é um ordeal. Sabe aquelas torturas em que deixam o cara com o olho aberto, sem poder piscar ou dormir? Pois é, mesmo em poucos minutos, a sensação é muito estranha e a minha vontade de piscar no primeiro olho operado era incontrolável, mas tinha um aparato pra manter o olho aberto durante toda a cirurgia. Tudo que eu queria era que aqueles minutos passassem logo. Puta que pariu, me deixem fechar o olho! Tirem essas drogas de luzes da minha frente! E aí vinha a parte que eu mais temia, a hora de cortarem a aba na sua córnea com instrumentos, levantarem e você ficar cego por alguns segundos. Essa parte não foi tão ruim quando eu pensava, até me deu um descanso. Então, vem o laser. Você não sente dor -- por causa do colírio anestésico --, só o cheiro de olho queimando. E aí vem a parte que dói um pouquinho, a lavagem do olho. É um líquido gelado, mas queima. O interessante é que, no segundo olho operado, já sabendo o que esperar, eu fiquei relaxadona, nem me deu muita vontade de piscar ou fechar o olho.

Bem, sobrevivi ao pós-operatório um tanto dolorido e extremamente tedioso, em que você tem que tentar manter os olhos fechados até o dia seguinte. (Melhor obedecer essa ordem do médico, pois se tentar abrir o olho vai doer pra caralho, believe me.) Esfregar o olho, nem pensar. Acordei hoje com o olho esquerdo perfeito, o direito um tanto embaçado. A córnea direita ficou um pouco inflamada, embaçando a visão, mas segundo o médico, isso é normal no pós-operatório, não está infeccionada. Aparentemente, foi um sucesso, visão perfeita no olho direito e mais que perfeita no esquerdo. Só que a cicatrização leva três meses, e a coisa flutua nesse período, há o risco de não ficar tão bom assim no resultado final, e eu ter que operar de novo. Mas tudo bem, tô apostando no melhor. Hoje já acordei livre dos óculos e podendo ver as horas no relógio da parede, placas de freeway à distância e os detalhes em foco no rostinho lindo do meu filho.