Monday, February 21, 2005

Essas vozes não vão se calar


Este simpático casal da foto está sendo alvo do ódio da direita em Sacramento e, devido à exposição na mídia nacional, já recebeu hate mail e ameaças de fascistas de todo o país. Advogados atualmente praticando em Berkeley, eles passam o fim de semana em sua hometown Sacramento, no bucólico bairro de Land Park. Desde o início da guerra no Iraque, os Pearcys exibem alguma forma de arte-protesto na frente de sua casa, além de bandeiras do Iraque e da Palestina nas janelas. A maior parte da vizinhança, sendo democrata, nunca os importunou. Mas os dois vizinhos republicanos, reacionários, no lado direito da casa e do outro lado da rua, ficaram furiosos quando o casal colocou, no início do mês, um boneco de um soldado, pendurado por uma corda, com a inscrição "Your tax dollars at work". Além de contatarem o FBI, a prefeitura e outras autoridades, tentando inutilmente fazer com que proibissem o casal de continuar usando a sua liberdade de expressão, os vizinhos de direita resolveram chamar as redes de TV locais para expor a sua revolta contra o display dos Pearcys. Isso aconteceu durante a semana, quando o casal estava trabalhando em Berkeley. Em menos de duas horas, um grupo de manifestantes raivosos se juntou diante das câmeras da TV, e um rapaz subiu no telhado da casa para arrancar o boneco do soldado. Naquele mesmo dia, um programa conservador de rádio começou a incitar os ouvintes a continuar protestando contra o casal de Land Park. Mesmo as matérias nas redes mainstream de TV tendiam mais para o lado dos direitistas revoltados, que consideraram a imagem do soldado pendurado um desrespeito às tropas. É justamente o contrário, afirma Stephen Pearcy. "Our display was intended as an accurate portrayal of what is occurring, that the Bush administration is leaving American soldiers out to hang and that our tax dollars are being used to send Americans to Iraq, and that they are dying there. We know that many free speech advocates and other friends 'on the left' would not find our message tasteful, but we suspect that most will agree that we should not be silenced by the right." Então, quando voltaram de Berkeley no dia 12 de fevereiro, os Pearcys colocaram outro soldado na frente da casa, desta vez com a inscrição "Bush lied, I died". As TVs voltaram a montar guarda na frente da casa, e obviamente outros fascistinhas querendo aparecer arrancaram mais esta imagem do soldado. Um grupo de extrema-direita, Move America Forward, convocou uma vigília noturna na porta da casa para o dia 15 de fevereiro. Os Pearcys contactaram uma série de entidades de defesa das liberdades civis e logo formou-se um protesto anti-vigília. Na noite do dia 15, a polícia teve que separar os grupos em cada lado da rua para que não saíssem na pancadaria. Ficou uma guerra de gritos. "Remember the Towers", gritou um imbecil do lado da vigília. "Os iraquianos não tinham NADA a ver com o ataque de 11/9", respondia o pessoal do Free Speech. "Se vocês não gostam desse país, vão embora daqui", gritou uma mulher entre os reaças. O outro lado respondeu com gritos de "nazista" e "seus McArthistas!" Total circo. Nesse fim de semana, o Peter, que tinha ido na manifestação anti-vigília, me levou para ver a casa de Land Park. Stephen estava bem na frente, cuidando do jardim e colocando uma nova arte protesto. Era uma pintura de um mapa dos EUA, colorido com as cores e estrelas da bandeira, entrando numa privada. "Thank you Mr. Bush" era a inscrição. Puxamos conversa com Stephen, e ele foi uma simpatia, educadíssimo, enquanto comentávamos os acontecimentos da última semana. Ele nos contou que recebeu uma carta de uma mulher de Maryland, dizendo-se uma cristã, mas terminando a carta desejando que o filho dele acabasse igualzinho ao boneco do soldado dependurado. Logo chegou um câmera de uma TV local. Peter e eu quisemos deixá-lo à vontade para atender o repórter, mas antes Stephen nos convidou para, quando estivermos na vizinhança de novo e virmos o carro dele na driveway, bater na porta da casa dele para fazer uma visita. Despedimo-nos desejando a ele coragem, boa sorte e cuidado com os truculentos que podem tentar ameaçar a família dele.