Sunday, July 10, 2005

A dor e a delícia de ter mais de 30

O Rafael Galvão escreveu um post hoje dizendo que o período de maior angústia, insegurança e carência sexual dos homens é na adolescência, quando os rapazes cheios de acne, desajeitados, sem grana e experiência são ignorados pelas meninas que desejam, e muitas vezes obrigados a recorrer à masturbação freqüente ou a "empregadas domésticas que encoxamos nas escadas, nas ruas escuras e debaixo das árvores". Em compensação, a vingança masculina chegaria quando as mulheres passam dos 30 anos. "Se -- generalizando e correndo o risco inerente a qualquer generalização -- uma mulher não está casada ao se aproximar dos 30 anos, a percepção de que suas chances de estabilização diminuem a cada novo dia, a cada nova ruga, a cada aproximação dos seios em direção à terra, a cada nova protuberância de celulite a deixa completamente angustiada" dispara Rafael, já consciente de que seria metralhado por suas leitoras acima de 30 anos. E continua: "Além do que dizem ser a escassez masculina, elas ainda continuam escolhendo bastante -- esse não dá porque é baixinho, esse não tem futuro, esse... E, paradoxalmente, quando escolhem, muitas vezes escolhem errado. O resultado é o aumento da descrença no sexo oposto, que infelizmente cresce no mesmo ritmo que a certeza de que é impossível viver sem eles."

É, Rafa, acho que a generalização não caiu bem, basta ver a reação das mulheres nos comentários ao seu post, apontando todos os furos nesse raciocínio. Primeiro, há mulheres que ficam mais bonitas depois dos 30 -- e mesmo que não seja esse o caso, o tipo de homem que não quer uma mulher sexy, inteligente e madura só porque ela não tem o peito em pé ou bunda durinha, definitivamente não é o homem dos nossos sonhos. Além disso, há muitas mulheres de 30 a 60 anos sem marido que estão muito mais felizes e sexualmente satisfeitas que a maioria das casadas. A resposta deliciosamente sarcástica da leitora Isabel vale ser reproduzida aqui:

Eu cheguei aos 30 e me livrei do casamento!!! Não sei o que essas mulheres tanto querem: mau-humor de manhã, o jornal amassado, peidos homéricos e o futebolzinho do domingo à tarde. Para não dizer a pelada com os amiguinhos suburbanos da terça à noite e o figurino bermuda-sandalia-de-dedo que todas nós achamos super-sexy. Pra não falar da sogra... Por que mulher quer casar mesmo? Ah, porque o sonho de consumo dela é reclamar da sogra ultra-protetora do filhinho da mamãe com quem ela casou, e que depois de alguns anos, ela não sabe se o filhinho da mamãe gosta dela por ser sua mulher ou por ser sua mãe-empregada substituta, depois que as chamas de paixão (e do sexo) viram um "raro prazer". Não troco os meus P.A. (paus-amigos) por nada nesse mundo! Não tenho que me preocupar com a agenda social, com os buracos nas meias, nem com as crises profissionais do p.a. Só quero paixão e poesia, e pode deixar que dos meus problemas cuido eu. Mulher de 30 anos esperta não passa tarde de domingo nem terça à noite sozinha. Só se for muito incompetente...
Por outro lado, há que se reconhecer que Rafael tem uma certa razão ao falar da ansiedade das mulheres em encontrar o homem ideal, e de que consideramos haver falta de produtos decentes no mercado. Só que isso não começa depois dos 30. A angústia já vem da adolescência e continua pro resto da vida. Tem uma entrada no meu diário aos 12 anos de idade que diz: "acho que nunca vou arrumar namorado", sem imaginar que no ano seguinte os dois maiores gatinhos da rua estariam me disputando. Mas nem sempre foi assim, um ano depois, aliás, eu já me encontrava completamente enchalhada. E você descobre desde cedo que os melhores homens, aparentemente, SEMPRE já estão comprometidos. E se você não for a menina mais linda ou sortuda da escola ou da rua, nunca vai ser tarefa fácil descolar sequer o tal adolescente espinhudo discípulo de Onan. Ou seja, se você está entre esses 99% das mulheres normais do mundo, vai aprender em tempo a usar armas como inteligência, senso de humor, linguagem corporal, camaradagem com os garotos, roupas bonitas, o corte de cabelo certo, e por aí vai.

Talvez o grande erro que as mulheres cometem nas suas relações com o sexo oposto seja o excesso de romantismo, a esperança de que cada nova relação vá ser a definitiva. Assim, elas relevam defeitos insuportáveis, manias irritantes, os pneus suficientes para preencher um depósito da Michelin, a performance sexual menos que satisfatória, tudo para que a relação "dê certo". Já os homens encontram com uma mulher nova num mindset completamente diferente. Aos primeiros sinais de grude ou emotividade excessiva, virilha mal depilada, calcinha velha, uma sandália que deu chulé, já era, o cara parte para outra. Afinal, para que perder tempo com essa mulher, se não foi capaz de me fazer instantaneamente cair de quatro por ela?

Acho que o ideal seria um equilíbrio entre os dois tipos de modus operandi. As mulheres estão namorando e casando com um bando de manés, enquanto os homens estão dispensando mulheres fascinantes sem lhes dar uma segunda chance. No final, os dois estão fazendo escolhas erradas. Casamentos infelizes ou tediosos são mais regra que exceção.

Ah, e essa imagem do rapaz fazendo iniciação sexual com empregada ou puta... Acho que depois do advento da pílula e mais tarde da AIDS, isso se torna cada vez mais raro.