Tuesday, July 05, 2005

Karl Rove a perigo

Não custa sonhar. Mas que a merda está pertinho de bater no ventilador, ah, isso está. Desde sábado, não se fala em outra coisa na blogosfera americana. Karl Rove, considerado "o cérebro de Bush", o arquiteto do poderoso marketing das campanhas eleitorais de Bush e de seus dois mandatos presidenciais, pode ter sido a misteriosa fonte do governo que delatou para jornalistas conservadores o nome de uma agente secreta da C.I.A. -- crime sério de traição da pátria, pela lei americana --, Valerie Plame, como retaliação ao marido dela, ex-embaixador Joseph Wilson, que havia falado publicamente contra a guerra ao Iraque. O nome de Rove está nas anotações do jornalista Matt Cooper, da Time, que foram entregues pela revista à Justiça americana, que investiga os culpados pelo vazamento da informação. O deputado federal democrata John Conyers já está passando um abaixo assinado entre os colegas do Congresso para exigir que o chefe da Casa Civil Karl Rove explique seu envolvimento no caso, ou renuncie imediatamente.

O Caso Plame, como é conhecido aqui, tem causado polêmica de todas as formas, não só pela gravidade e mesquinhez da delação do nome da agente como vingança republicana, mas também por abrir precedentes para que jornalistas sejam obrigados a revelar fontes anônimas de suas reportagens. Para muitos jornais, jornalistas e seus advogados, é preciso proteger a anonimidade das fontes a todo custo, pois do contrário seria impossível realizar matérias investigativas importantes no futuro, especialmente para os jornalistas envolvidos no caso: Matt Cooper da Time, Judith Miller do New York Times, e o asshole Robert Novak, pundit da CNN e colunista sindicado em vários jornais. Já os promotores do caso acreditam que, quando há um crime em jogo, o conceito da anonimidade das fontes deixa de ser prioridade. Por isso, a promotoria federal está ameaçando até de prisão os jornalistas Judith Miller e Matt Cooper, se continuarem se recusando a colaborar com o processo. Aparentemente a pressão ainda não chegou até Novak, embora ele tenha sido o principal divulgador do nome de Plame, e seja ainda um dos colunistas mais procurados por Karl Rove.

No entanto, há jornalistas que defendem a revelação da fonte no Caso Plame. Um deles é o ex-repórter e atual Professor da Universidade de Massachusetts em Amherst, Bill Israel, que foi colega de Karl Rove na Universidade do Texas. Para Bill Israel, uma coisa é proteger uma fonte que está denunciando um crime grave na administração pública ou privada; outra coisa é proteger o próprio criminoso. E ele, que conhece pessoalmente e até acha Rove brilhante e simpático, acha que os jornalistas Miller e Cooper estão errados em proteger o comportamento do "Primeiro Ministro" de Bush. "In this case, journalists as a community have been played for patsies by the president’s chief strategist, Karl Rove, and are enabling him to abuse the First Amendment, by their invoking it", afirma Israel.

Update em 6 de julho: A repórter do New York Times Judith Miller acaba de ser presa por se recusar a revelar sua fonte à Justiça. Matt Cooper, da Time, já recebeu autorização da sua fonte na reportagem para ir depor, e assim se livrar da cadeia.