Mulheres de opinião
Na literatura e nas redações dos jornais, há muito tempo que a presença feminina é tão forte quanto a dos homens. Escrever bem, fazer pesquisa, apurar com afinco as informações não são uma questão de gender. No entanto, corra os olhos pelas páginas de editoriais de opinião dos jornais e revistas, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, e você verá um número desproporcional de homens. Os colunistas das páginas de Op-Ed do New York Times são sete homens e uma mulher (a maravilhosa Maureen Dowd). No Washington Post, 18 homens e uma mulher (Anne Applebaum). Na revista Time, 11 colunistas homens, e só. A briga do editor do Los Angeles Times, Michael Kinsley, com a professora de Direito da USC Susan Estrich -- que protestou em toda a imprensa contra a desproporção de mulheres nas páginas editoriais do jornal de LA -- provocou um debate na blogosfera. Há realmente um clube do Bolinha, uma discriminação contra colunistas do sexo feminino, ou são as mulheres que não são agressivas o suficiente para correr atrás desses postos? A chocante revelação da pesquisa da Blogads de que apenas 24,75% dos blogueiros americanos são mulheres colocou mais lenha nessa fogueira.
Para Amy Sullivan, editora da Washington Monthly, não se trata de discriminação por parte dos chefes de jornais, mas sim na maneira como as meninas são criadas, reprimindo sua agressividade. Na família, na escola, as meninas são condicionadas a não levantarem a voz, a não partirem para a briga, a exibir docilidade. São coisas que não ajudam uma mulher a ser bem sucedida num meio em que é preciso exibir um excesso de auto-confiança, falar alto para aparecer e ser ouvido, ao mesmo tempo que se dá a cara a tapas, tendo que resistir a duras críticas e ataques dos colegas (ou público). Para chegar no topo da carreira do jornalismo político e de opinião, uma mulher tem que se adaptar às regras do boy's club. Falar grosso.
Ainda que aprendam a navegar pelo mar de testosterona, acho que as mulheres ainda incomodam muito os homens quando elas ousam insistir em suas opiniões. Ontem, fiquei horrorizada ao ver que um troglodita chamou a valorosa DaniCast de "bitch" e "dondoquinha vadia", por causa de um post dela sobre voto obrigatório, voto nulo e o governo Lula. E outro dia mesmo, um fulano me acusou de "bater boca" nos outros blogs. Achei injusto, porque não me considero nada mais agressiva ou implicante que os demais comentaristas e blogueiros que atuam na Internet. Procuro ser uma presença simpática e sempre jogo limpo. O que eu não agüento é ler um sujeito advogar que "homem tem que dar porrada" na mulher que o trai ou que "mulher tem que fazer jantar pro homem", no blog de quem quer que seja, e não dar uma resposta. Se ninguém se manifestar contra esse tipo de idéia, fica parecendo que todo mundo aceita. Eu grito que não; se quiser dar porrada, passe por cima de mim primeiro. E aí, sabe como é: homem debate, tem "briga bonita"; mulher bate boca.
So I'm a bitch, too. And somehow that makes me feel empowered. Já disse pra DaniCast que ser xingada de bitch por aquele carcamano é um bom sinal de que a opinião dela causa impacto. Não vamos nos intimidar e murchar como violetas num canto da sala. A gente chegou na blogosfera pra falar alto, como, com quem, quando e sobre o que a gente quiser.
Homenagens, parabenizações e elogios condescendentes, eu dispenso. Quero ver a mulher ser respeitada de forma sincera nesse mundo blogosférico.
Eu queria fechar com um recado para todas as leitoras que passarem por aqui e tiverem vergonha de deixar um comentário, ou por pura timidez ou porque acham que não entendem suficientemente de algum assunto, ou porque se sentem mal em discordar com minha opinião. Falem sim, falem sempre, falem grosso. Não me importa que você não seja PhD no assunto, que você deixe apenas uma piada ou observação divertida, ou que você critique o meu ponto de vista. Confie na sua intuição, na sua sensibilidade. Se disser besteira um dia, so what? Blog é um canal de discussão, é um espaço democrático, é espaço de improviso e diálogo, mesmo com alguns tropeços e meias voltas. Um comentário tolo aqui, um post brilhante no dia seguinte.
Mulherada, vamos desabrochar, vamos tomar essa blogosfera com unhas e dentes.
<< Home