Punição exemplar
O zagueiro argentino Desabato, do time de futebol Quilmes, passou esta noite no xilindró (e continua preso enquanto não obtiver habeas corpus) depois de ter xingado o jogador brasileiro Grafite, do São Paulo, de "negrito, macaquito, hijo de una puta" ou coisa que o valha, segundo as denúncias do brasileiro à Polícia, corroboradas em parte por imagens da TV, ontem, em partida da Taça Libertadores. O jogador argentino e sua equipe foram pegos de surpresa com a prisão, e o cônsul argentino em São Paulo, Norberto Vidal, disse ao jornal Clarín que a legislação brasileira contra crimes de racismo é "muito dura".
Aposto que muitos brasileiros estão vibrando com este episódio, como se fosse um gol do Brasil contra a Argentina em Copa do Mundo. No entanto, a lição mais importante a se tirar, tanto para argentinos quando para brasileiros, é que o racismo é crime sério. Grafite deu um exemplo de cidadania e dignidade a todos os brasileiros, negros ou não, ao exigir o cumprimento da lei e o respeito que lhe é devido. Desabato está se defendendo, negando tê-lo xingado de negro, e fazendo-se de vítima injustiçada, mas no fundo ele sabe o que disse, e no futuro pensará duas vezes antes de se dirigir a uma pessoa negra de forma pejorativa. Pelo menos em solo brasileiro. Além disso, a ação da polícia e justiça de São Paulo também fará os brasileiros refletirem sobre seus próprios atos de preconceito e racismo. O velejador e secretário de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo, Lars Grael, disse em entrevista à CBN que o Brasil está dando uma lição ao mundo inteiro ao punir com prisão um episódio de racismo em campo.
O episódio vai acirrar sem dúvida a rivalidade e antipatia entre argentinos e brasileiros no futebol (e fora dele), o que é por um lado lamentável, pois a Argentina também é um belo país que merece ser respeitado e conhecido em sua cultura, muito além dos clichês de Galvão Bueno. Nem todos os argentinos são racistas como Desabato, e muitos brasileiros teriam xingado Grafite igualzinho ao zagueiro do Quilmes. Ter preconceito contra os argentinos também é uma forma de racismo e fascismo.
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