Monday, April 04, 2005

Reminiscências papais

A morte do Papa João Paulo II me levou a uma viagem no tempo. Sim, porque antes de me converter ao ateísmo aos 18 anos, e de desafiar um bispo carioca em carta, aos 16 anos, sobre os dogmas do catolicismo e o combate à Teologia da Libertação, eu era mais uma criança criada por uma católica fervorosa e educada em colégio de freiras. A primeira lembrança que me veio à mente foi a morte do Papa Paulo VI, e em seguida a escolha de João Paulo I, que todos diziam ser um homem tão bonzinho, mas o pobre mal esquentou a cadeira de papa e logo morreu também, deixando as freiras do meu colégio de luto e os alunos felicíssimos com o feriado que caíra do céu. Lembro vagamente de haver algumas teorias conspiracionistas sobre a morte dele, alguém o teria envenenado, seria meio liberal, ou coisa parecida. Daí veio o João Paulo II, um papa que parecia bem saudável, não muito velho, esquiava e tudo, então todos ficaram tranqüilos que ele não iria morrer tão cedo. No ano de 1980, ele visitou o Brasil. Gente, foi uma histeria no Rio de Janeiro, se o Michael Jackson daquela época viesse, não teria causado tamanha comoção. Para os católicos mais tradicionais, era quase como se o próprio Jesus Cristo estivesse nos dando a honra de sua visita. Então, fomos eu, Mamãe e irmãos nos juntar à multidão que se formou no Largo do Machado para ver João Paulo II passar de carro. Horas e horas de espera, para mal ver o topo do chapéu do cara passar por cinco segundos. No dia seguinte, fomos então ver a missa do Papa no Aterro. Show de Roberto Carlos, mulheres indo às lágrimas e desmaiando. Eu me sentia presenciando um momento histórico, e como aos 12 anos eu nunca tinha ido a um concerto de rock ou outro evento em multidão, curti horrores. Mas ainda lembro muito pouco desses momentos que foram tão importantes para a minha mãe, que morreu sempre católica e acreditando na santidade do Papa. Não consigo lembrar da felicidade no rosto dela, da antecipação... Só lembro do esforço que eu fazia para esticar o pescoço e pegar um mínimo glimpse da figura do papa, no meio da multidão de cabeças quase sempre mais altas que a minha.