Wednesday, April 06, 2005

Shriver faz ponte entre Arnold e democratas

Não há dúvida que o Governador Arnold Schwarzenegger é a maior celebridade de Sacramento, e que é impossível para os moradores da cidade não saírem por aí contando vantagem quando o avistam num restaurante, passando de carro na rua ou no lobby do Hotel Hyatt, onde ele dorme quando está aqui. Mesmo assim, ele ainda é odiado pelos democratas, pelos eleitores progressistas, feministas e trabalhadores de sindicato -- principalmente os de enfermeiros e professores. Se há alguém que consegue manter a popularidade entre políticos e eleitores de todos os matizes, em Sacramento e beyond, é a primeira-dama da Califórnia, escritora e jornalista Maria Shriver. Inteligente, chique e cheia de entusiasmo, com o rosto magro e quadrado típico do clã Kennedy, Maria dedica-se a causas nobres e, apesar de apoiar o marido publicamente em todos os momentos, continua sendo democrata e tenta influenciar Schwarzenegger a mudar de idéia quando ela não concorda com algum programa de governo. Dizem que foi Maria quem convenceu o governador a não cortar parte dos programas estaduais de apoio a deficientes mentais. Mais do que isso, o escritório de Maria Shriver é o go-to place para os políticos democratas que sentem dificuldade em negociar diretamente com o gabinete do governador republicano. "She's a great buffer", diz o porta-voz da Assembléia Estadual, Fabian Nuñez.

Filha de Eunice Kennedy - irmã do presidente John Kennedy e fundadora das Special Olympics para deficientes - e Sargent Shriver - criador do Peace Corps e de vários programas de benefício a comunidades economicamente desfavorecidas nos EUA - Maria Shriver segue o legado da família na área pública e também privada, com sua extensa prole (para os padrões hollywoodianos) de quatro filhos. No entanto, Maria fugiu totalmente ao que se esperava de uma Kennedy ao se casar há 19 anos com o ator, body builder e republicano Schwarzenegger, em vez de optar por algum tipo intelectual democrata americano de pedigree. "Eu queria alguém diferente dos East Coast preppies que estavam à minha volta o tempo todo." Quando ela conheceu Arnold em 77, durante um campeonato de tênis beneficente, os dois logo sentiram uma enorme atração física um pelo outro, e segundo o irmão mais velho Bobby Shriver, os dois adoram pregar peças (Maria teria jogado uma torta na cara de Arnold na fase de paquera). Maria também gostou do jeito escrachado do ator, que fala o que dá na telha e não tenta se passar por intelectual (ele admite que nem gosta muito de ler). Ao que parece, a afinidade sexual ainda é grande no casamento deles. "After all these years we are still engaged with each other, hot for each other, into each other. There hasn't been a moment when I have been bored", disse Maria numa entrevista à Vanity Fair ano passado.

Mas o casamento também enfrentou provações, como as denúncias de que Arnold Schwarzenegger assediava sexualmente várias mulheres nos sets de seus filmes - informação que surgiu primeiro em 2001, na revista de cinema Premiere, e foi resgatada pelo Los Angeles Times em 2003, na campanha pela eleição recall a governador da California. Segundo o LA Times, há 16 mulheres acusando Schwarzenegger de tê-las assediado, agarrado ou humilhado publicamente, num período de 25 anos. Durante a campanha eleitoral, Shriver foi uma rocha e se manteve no palanque até o fim, dizendo não acreditar nas denúncias. No entanto, ela é um pouco mais ambígua na entrevista à Vanity Fair, admitindo que algumas acusações procedem, mas que devem ser relevadas. "Você tem que separar o que é realidade e o que é a percepção das outras pessoas."

Ainda tento entender o que faz uma mulher da inteligência de Maria se apaixonar por um bruto como Schwarzenegger. Talvez seja uma mistura de compatibilidade na cama, senso de humor, companheirismo, sintonia nas ambições. Mas como é que você consegue continuar casada com alguém que, segundo fontes seguras, sai passando a mão em outras mulheres, apalpando peitos e bundas sem pedir licença? Por mais liberal que eu seja, é o tipo da coisa que eu não admitiria ja-mais.