Tuesday, April 05, 2005

A invasão das borboletas

Ontem, ao ser envolvida por uma nuvem de borboletas cor-de-laranja, me senti o próprio Mauricio de Cem Anos de Solidão. Mas elas não estavam ali por minha causa. Milhões de borboletas Painted Lady (Bela Dama, ou Vanessa-dos-cardos) passaram ontem por Sacramento, em seu magnífico movimento migratório desde o deserto na fronteira dos EUA e México até o Noroeste americano. O fenômeno só é percebido facilmente quando há uma migração em massa, o que acontece entre uma e duas vezes por década, quando há muitas chuvas de inverno nas áreas desérticas do sudoeste americano/noroeste do México, fazendo brotar mais plantas e flores -- que deixam as lagartas super bem alimentadas, com um grande estoque de gordura. A última vez que isso aconteceu foi depois do El Niño de 97/98. E os observadores dizem que o espetáculo que eu presenciei foi ainda mais impressionante que o de 7 anos atrás. Era incrível ver todas essas borboletas, numa grande faixa de extensão, mas todas indo para a mesma direção, noroeste. Observei-as em maior número na hora do almoço, mas ainda era grande a concentração às cinco da tarde, quando voltei para casa, e vi-as tentando evitar os carros na freeway, e depois passando por cima do telhado da minha casa, ou por cima da cabeça do meu filho.

As painted ladies voam em média entre 6 e 12 pés de altura, passando por cima de obstáculos, mesmo os mais altos, como edifícios, em vez de desviar pelo lado, por milhares de quilômetros. Em menos de uma semana, elas conseguem viajar do México até o Vale Central da California, chegando à base da Serra Nevada. Aí elas já estão meio com fome, mais ou menos aqui onde eu moro, param para se abastecer em florzinhas e desovar. Algumas vão acabar espatifadas nos pára-brisas de carros, mas a população é grande o suficiente para se manter e reproduzir. Os ovos das painted ladies que nascerem entre Sacramento e as foothills vão depois se transformar em lagartas e borboletas e voar novamente para Noroeste em Maio, em direção à costa do Pacífico. No outono, elas fazem a viagem inversa para o sul.