Thursday, June 09, 2005

Stuck in Baltimore: Espelho, espelho meu


O resultado das eleições na Inglaterra não mereceu tanto destaque quanto a americana. Mas acho que é um interessante exemplo inverso do que aconteceu por aqui. Enquanto que nos EUA a política é dominada por um grupo de centro-direita com matizes mais conservadores, a Inglaterra tem um partido de centro-esquerda mais progressista, fortalecido por uma modernização de suas idéias históricamente ligadas ao trabalhadores (lembra alguém mais?).

Nos States, o atual presidente conseguiu se reeleger por um triz apesar da guerra, dos problemas econômicos e do fanatismo religioso de parte de sua base eleitoral (que já anda incomodando até os conservadores moderados). No Reino Unido, Tony Blair e seu partido Laborista conseguiram vencer com facilidade (mas com menor margem do que se esperava), apesar da guerra e de um certo medo inglês à imigração e ao terrorismo. Isso graças ao otimismo em relação à economia local, a competência pessoal de Blair e a falta de carisma dos seus adversários (que tentaram apelar para o xenofobismo anti-imigrante e anti-Europa).

Eu morava em Londres quando Blair foi eleito pela primeira vez, completando uma modernização política no seu partido e no desbotado ambiente controlado pelos enfraquecidos Conservadores (ou Tories), que já não contavam com a liderança da Dama de Ferro, Margaret Thatcher. Ao reverso, os atuais democratas americanos passam por uma entresafra política da qual precisam desesperadamente sair para não cair ainda mais em desgraça em 2008. Seriam Blair e Bush (e seus respectivos partidos), duas caras da mesma moeda ou opostos unidos por uma guerra estimulada com ideais inescrupulosos, graves erros de execução e objetivos incertos?

Tenho que dizer que tenho simpatia por Blair e por seu partido, apesar de tudo. Assistindo à BBC internacional, vi um debate ao vivo onde ele foi brutalmente massacrado pela audiência inglesa. As perguntas eram de grosso calibre: "Sr. Blair, como espera que votemos de novo em você quando o senhor mentiu pra nós?", "Como vamos saber que não vai nos meter numa nova enrascada graças ao seu grande amigo Bush?" e "Sr. Blair, vou votar em você apenas porque as alternativas são piores ainda". Blair saiu-se da melhor forma que pode, mas aceitou a sabatina sem espernear. Enquanto isso, o partido Republicano nos EUA criou "debates públicos" (leia-se, farsas públicas) onde todos eram simpatizantes do partido prontos para levantar a bola pra Bush. Alice, leve-me para o outro lado do espelho...

by Fernando