Stuck in Baltimore: Carta a um homem-bomba
O assunto Israel-Palestina é capaz de suscitar reações imprevisíveis até mesmo nas pessoas mais pacíficas e racionais. Todo mundo tem uma opinião: contra, à favor, de pena, de ódio, de discurso político, etc. Antes que as patrulhas ideológicas (e há muitas na blogosfera, apesar de tudo) desmontem meus argumentos, vou logo dizer que não sou judeu, nem árabe e não tenho ligações diretas com nenhum dos dois lados. Sou contra todos os excessos do exército de Israel e de Sharon, contra a ocupação dos territórios e totalmente à favor do estado do estado Palestino.
Porém, não posso deixar de me sentir incomodado com uma certa tolerância à violência extremista, porque esta provém do lado que queremos ver vitorioso. Me explico (antes que achem que estou atacando alguém com este texto): não consigo não ver como barbárie a espantosa indústria dos homens-bomba. E não consigo entender como podemos aliviar suas atrocidades através de argumentos políticos. QUALQUER argumento político. Inclusive a infindável discussão sobre quem chegou primeiro nesta terra-símbolo da discórdia humana. Gostaria de ver a poética libertadora que tantos atribuem à "soldados" que sobem num ônibus lotado cobertos de dinamite (e pregos de forma a rasgar melhor a carne das vítimas) para "martirizarem-se". Mas não consigo.
Também não consigo sentir solidaridade por grupos políticos que usam crianças, mulheres, pobres ou qualquer um que estiver desesperado o suficiente para virar míssil-humano. Simplesmente porque não acho que Hamas e outros grupos radicais possam realmente representar todo o povo Palestino com essas táticas. A idéia de que estes são os únicos meios de luta que lhes restam diante de um inimigo superior também me parece um argumento vazio. Será que Israel pode se sentir livre de usar táticas repressivas só por estar rodeado de inimigos de todos os lados? Será que a vida de jovens israelenses (burgueses culpados talvez?) explodidos em um bar valem menos que uma criança palestina morta por um tiro de um soldado judeu? Será que a conivência de vários países da região que mantém estados repressivos e extremistas, com toda uma gama de abusos contra os direitos humanos, os absolve dentro da causa Palestina?
Enfim, não vejo como passar por alto a contradição básica em negar a violência de um lado e aceitá-la do outro. Como se faz por exemplo aqui nos EUA, com as vítimas do 11 de Setembro, ao justificar a invasão de um país que nada teve a ver com isso ou ao apoiar a sorrateira quebra de convenções internacionais de direitos humanos. Sem contar com o apóio indireto que grupos religiosos extremistas recebem através dessa ótica, enquanto lutamos contra religiosos intolerantes (mas ocidentais) do outro lado. Acho que, para se poder falar eficazmente em paz no Oriente Médio, é necessário rever esse conceito de dois pesos para duas vidas inocentes. Ou então que voltemos ao mundo onde ninguém é inocente. Nem palestinos, nem israelenses.
by Fernando
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