Tuesday, March 29, 2005

Seria ele o nosso Jayson Blair?

O repórter Osmar Freitas Jr., da IstoÉ, conta todo prosa que entrevistou Woody Allen durante um jantar íntimo para 6 pessoas, no apartamento do cineasta. Descreve vagamente a festa, e o grosso da matéria é uma entrevista em formato Q&A sobre o novo filme de Allen, Melinda & Melinda. Osmar diz que Woody teria se recusado a gravar entrevista, mas aceitado que o repórter anotasse tudo no papel.

Depois de ter uma sensação de dejà vu ao ler a matéria, o blogueiro Renato Parada descobriu que algumas das perguntas e respostas obtidas por Osmar para as páginas vermelhas da IstoÉ são tradução literal de uma entrevista que ele já tinha lido antes em inglês, no site Suicide Girls. (Pedro Dória ajudou a divulgar esse achado sensacional do coleguinha de Campinas.)

A dúvida que fica é se a matéria de Osmar é toda uma "recortagem" e a festa nunca existiu, ou se ele realmente foi ao tal jantar, mas não conseguiu anotar material suficiente para preencher o espaço das páginas vermelhas e complementou com uma pesquisa no Google. De qualquer forma, a cópia de outra matéria mascarada como entrevista exclusiva é o cúmulo da falta de ética e profissionalismo. O Osmar vai ter muito o que explicar. Nossa, o vexame é tão grande que já estou até com pena dele.

Agora, veja se você concorda comigo. Imagine que você é um jornalista e tem a oportunidade única na vida de poucos mortais de estar na CASA do Woody Allen, frente a frente com esse homem que é um ícone de Hollywood, uma personalidade curiosíssima e super controversa, numa festa íntima com ele e seus amigos. O resultado dessa sua matéria seria, por acaso, uma longa Q&A divulgando o novo filme do diretor (que parece nem ser lá essas coisas), ou seria um perfil exclusivo do Woody Allen, com sua aguçada observação pessoal, contando desde detalhes da decoração do apartamento, a música que tocou na festa, até gestos mínimos que contradigam a fala do entrevistado? Ele fez algum comentário self-deprecating, era amável ou implicante com os amigos? Como era o sapato que ele estava usando, era velho, desamarrado? Ou seu traje era metodicamente tidy, e ele usava um perfume sofisticado? Que livros estão na estante, que quadros na parede? As fotografias de família ou toques femininos na decoração mostravam a presença forte da mulher/ex-enteada Soon-Yi? Como é o cheiro da casa dele? Pra mim, se o cara tá num jantar íntimo na casa do Woody Allen, fazer disso uma entrevista Q&A de divulgação de filme é um equívoco editorial, talvez explicado pelo fato de que essa festa talvez nunca tenha existido mesmo. Again, o ônus da prova está com o Osmar.

Brasil 2 x 0 EUA

Já tenho tempo de estrada suficiente para saber que não existe um país ideal para se viver. A gente vai pesando as prioridades e escolhe o lugar que, naquele momento da sua vida, vai lhe oferecer mais vantagens - sejam financeiras, estéticas, profissionais ou emocionais. No entanto, todo meu ceticismo e pessimismo vai pras cucuias e grito "Goooool do Brasil!!!"quando eu vejo uma notícia positiva sobre o nosso país, ou quando um flagrante desrespeito às liberdades democráticas nos Estados Unidos me faz ver que, em comparação, a liberdade de associação e de expressão é muito maior nas terras tupiniquins.

Se você ficou com preguiça de ler meus links, ou não tá com o inglês em dia, eu estou falando no seguinte: 1) deu no NYT o projeto do Governo Lula de disponibilizar computadores baratos e com software gratuito - driblando o monopólio da Windows - para a população de baixa renda e escolas públicas; 2) toda vez que o preznit Bush viaja pelo país com o dinheiro público para falar de seu programa de governo, apenas uma claque de republicanos e simpatizantes é permitida a participar ou sequer se aproximar do local do evento. Na semana passada, em Denver, três cidadãos que entraram para assistir à apresentação de Bush sobre o Social Security foram expulsos do auditório por seguranças, porque organizadores do evento viram que o carro deles tinha o adesivo "No more blood for oil".

Desmintam-me se souberem do contrário, mas presidentes brasileiros não costumam barrar pessoas de diferente filiação partidária ou ideológica em eventos públicos, e estão acostumados a fazerem comícios ou aparições em praça pública em que sempre tem um grupo do PSTU gritando slogans de protesto. Fazer passeata no Brasil hoje é muito mais fácil que nos EUA, e dificilmente um manifestante acaba preso a não ser em raros casos de um protesto terminar em pancadaria.

O governo americano com certeza vai argumentar que o controle da entrada em eventos do presidente Bush é uma questão de segurança antiterrorismo. However, cidadãos de ficha limpa estão tendo negado o seu direito de participar de eventos que o governo chama de "town hall" (onde pessoas do povo podem fazer perguntas diretamente aos políticos). A mesma coisa acontecia nos comícios da campanha presidencial, isso é modus operandi de BushCo. Infelizmente, a mainstream media não se preocupa em denunciar mais esta prática facista da administração Bush. A notícia vai mais uma vez ficar para a imprensa local e a blogosfera de esquerda.

Monday, March 28, 2005

A blog of rage

Do blog do meu amigo Steve Smith:

"The thugs have seized power, and their crimes are shrouded in a veil of misinformation, undisguised attacks on liberals, blatant pandering to the right wing, and a slew of voyeuristic garbage passing itself off as news — Scott Peterson, Michael Jackson, Terri Schiavo, whoever the fuck got kicked off American Idol.

This is a hostile action against democracy, which is predicated on an informed populace.

America is in uncharted waters."

Tenho a mesma opinião do Steve, a de que a imbelicilização e direitização da mídia americana contribuíram para a eleição do Bush e para que sua administração empurre goela abaixo da população um retrocesso nos direitos civis, leis ambientais, direitos trabalhistas e de aposentadoria, sem falar na guerra do Iraque. Leia o SmithAntics e se solidarize no sentimento de rage! Não se deixe enganar pelos palavrões aqui e ali, Steve é articulado e escreve bem pra caralho.

Thursday, March 24, 2005

Enquanto isso, no Kyrgyzstão...

Só dá Kyrgyzstan nos noticiários de hoje. Não é engraçado quando um lugar do qual nunca se ouviu falar antes de repente vira primeira página de todos os jornais? E você fica se sentindo um ignorante, imaginando como conseguiu viver 36 anos sem saber que o Kyrgyzstão existia. Mas agora eu já sei que é um país da Ásia Central, ex-república soviética, entre o Uzbequistão e a China, independente desde 91. Ah, quer dizer então que você já sabia? Eu dou um prêmio para quem me provar que já tinha ouvido falar desse país antes.

Wednesday, March 23, 2005

Mulheres de opinião

Na literatura e nas redações dos jornais, há muito tempo que a presença feminina é tão forte quanto a dos homens. Escrever bem, fazer pesquisa, apurar com afinco as informações não são uma questão de gender. No entanto, corra os olhos pelas páginas de editoriais de opinião dos jornais e revistas, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, e você verá um número desproporcional de homens. Os colunistas das páginas de Op-Ed do New York Times são sete homens e uma mulher (a maravilhosa Maureen Dowd). No Washington Post, 18 homens e uma mulher (Anne Applebaum). Na revista Time, 11 colunistas homens, e só. A briga do editor do Los Angeles Times, Michael Kinsley, com a professora de Direito da USC Susan Estrich -- que protestou em toda a imprensa contra a desproporção de mulheres nas páginas editoriais do jornal de LA -- provocou um debate na blogosfera. Há realmente um clube do Bolinha, uma discriminação contra colunistas do sexo feminino, ou são as mulheres que não são agressivas o suficiente para correr atrás desses postos? A chocante revelação da pesquisa da Blogads de que apenas 24,75% dos blogueiros americanos são mulheres colocou mais lenha nessa fogueira.

Para Amy Sullivan, editora da Washington Monthly, não se trata de discriminação por parte dos chefes de jornais, mas sim na maneira como as meninas são criadas, reprimindo sua agressividade. Na família, na escola, as meninas são condicionadas a não levantarem a voz, a não partirem para a briga, a exibir docilidade. São coisas que não ajudam uma mulher a ser bem sucedida num meio em que é preciso exibir um excesso de auto-confiança, falar alto para aparecer e ser ouvido, ao mesmo tempo que se dá a cara a tapas, tendo que resistir a duras críticas e ataques dos colegas (ou público). Para chegar no topo da carreira do jornalismo político e de opinião, uma mulher tem que se adaptar às regras do boy's club. Falar grosso.

Ainda que aprendam a navegar pelo mar de testosterona, acho que as mulheres ainda incomodam muito os homens quando elas ousam insistir em suas opiniões. Ontem, fiquei horrorizada ao ver que um troglodita chamou a valorosa DaniCast de "bitch" e "dondoquinha vadia", por causa de um post dela sobre voto obrigatório, voto nulo e o governo Lula. E outro dia mesmo, um fulano me acusou de "bater boca" nos outros blogs. Achei injusto, porque não me considero nada mais agressiva ou implicante que os demais comentaristas e blogueiros que atuam na Internet. Procuro ser uma presença simpática e sempre jogo limpo. O que eu não agüento é ler um sujeito advogar que "homem tem que dar porrada" na mulher que o trai ou que "mulher tem que fazer jantar pro homem", no blog de quem quer que seja, e não dar uma resposta. Se ninguém se manifestar contra esse tipo de idéia, fica parecendo que todo mundo aceita. Eu grito que não; se quiser dar porrada, passe por cima de mim primeiro. E aí, sabe como é: homem debate, tem "briga bonita"; mulher bate boca.

So I'm a bitch, too. And somehow that makes me feel empowered. Já disse pra DaniCast que ser xingada de bitch por aquele carcamano é um bom sinal de que a opinião dela causa impacto. Não vamos nos intimidar e murchar como violetas num canto da sala. A gente chegou na blogosfera pra falar alto, como, com quem, quando e sobre o que a gente quiser.

Homenagens, parabenizações e elogios condescendentes, eu dispenso. Quero ver a mulher ser respeitada de forma sincera nesse mundo blogosférico.

Eu queria fechar com um recado para todas as leitoras que passarem por aqui e tiverem vergonha de deixar um comentário, ou por pura timidez ou porque acham que não entendem suficientemente de algum assunto, ou porque se sentem mal em discordar com minha opinião. Falem sim, falem sempre, falem grosso. Não me importa que você não seja PhD no assunto, que você deixe apenas uma piada ou observação divertida, ou que você critique o meu ponto de vista. Confie na sua intuição, na sua sensibilidade. Se disser besteira um dia, so what? Blog é um canal de discussão, é um espaço democrático, é espaço de improviso e diálogo, mesmo com alguns tropeços e meias voltas. Um comentário tolo aqui, um post brilhante no dia seguinte.

Mulherada, vamos desabrochar, vamos tomar essa blogosfera com unhas e dentes.

Tuesday, March 22, 2005

Ave Ganesha

Uma vez eu já comentei aqui o meu desânimo com a culinária e os restaurantes americanos. Mas se tem uma coisa aqui que atiça o meu desejo, os meus sentidos, é a comida indiana. É uma riqueza de cheiros, sabores e texturas, que eu sempre devoro com intenso prazer e satisfação. Amo curry, daal (lentilhas), naan (pão), chicken tandoori, samosa (um pastel de forno com recheio de batata e outros legumes e temperos), chutney, e dá para montar um prato do jeito que a gente gosta no Brasil: arroz, daal substituindo o feijão, galinha e legumes, e para arrematar, o pão para passar nos diferentes molhos. Até o ano passado, eu vivia num buffet indiano chamado Jag's, cujo dono era o próprio chef e garçom. Fui uma de suas primeiras freguesas regulares; pedi a ele para diminuir a spicyness do curry e ele atendeu. Quando o Larry Rohter escreveu no NYT que o Lula era bêbado, Jag me sacaneou. Mas Jag estava velho e cansado, e decidiu fechar o restaurante em junho do ano passado. Fiquei arrasada, perdi meu lugar preferido para almoçar. Não há nenhum outro restaurante indiano nas redondezas. Até que, em fevereiro de 2005, chegou minha salvação. Um colega meu do trabalho, que foi do Peace Corps no Nepal, me indicou um novo restaurante indiano-nepalês que abriu pertinho de onde era o Jag's, oferecendo também buffet para almoço. Gente, agora não saio mais do Katmandu, como lá no mínimo duas vezes por semana. A variedade de pratos é enorme, e ainda por cima as sobremesas são deliciosas. Tem o arroz doce cremoso com pistaches, um negócio branco que lembra aquele doce de leite em quadrados, um bolinho de massa embebido em mel.

Ontem, minha colega americana que também é fanática por comida indiana começou a puxar papo com um dos donos, na hora de pagar o buffet no caixa. Ela queria saber porque a "deusa" naquele quadro tinha uma cabeça de elefante. O rapaz sorriu, se animou todo e começou a contar uma longa história sobre esse deus, que é homem e se chama Ganesha. O problema é que o sotaque dele era carregado, eu e Michelle não entedemos absolutamente nada, a não ser o final em que ele disse "matou o próprio filho" e "ir na floresta pegar a cabeça do primeiro ser que encontrasse". O rapaz ria, dizendo, "não é uma história engraçada"? E eu respondi, meio espantada, "mas é um pouco triste também, né?" Claro que fiquei intrigada e fui pesquisar sobre a história do Ganesha na internet. E o pior que a história é engraçada mesmo.

Diz a mitologia hindu que a deusa Pavarti criou Ganesha a partir do ungüento de sândalo e pediu que ele montasse guarda à sua porta enquanto ela se banhava. O marido de Pavarti, o deus Shiva, chegou e se sentiu insultado quando Ganesha impediu a sua entrada. Num só golpe, cortou a cabeça do coitado. Quando Pavarti perguntou a Shiva onde estava o filho deles, que ela havia acabado de criar, Shiva ficou em maus lençóis. Ordenou então a seus guardas que fossem à floresta buscar a cabeça da primeira criatura que vissem, e a colocassem no corpo de Ganesha para fazê-lo voltar à vida. Daí surgiu a figura dessa divindade, que é considerado o deus dos recomeços, do início de uma nova vida, da prosperidade, e também um guardião e protetor dos inocentes contra o mal. Quadros e estátuas de Ganesha enfeitam festas de casamento, templos, casas, lojas e restaurantes, e um festival de 10 dias (Ganesh Chartuti) celebra o nascimento de Ganesha na Índia, entre agosto e setembro. Sua figura é rechonchuda e simpática, e ele é sábio, brincalhão e adora doces, principalmente o modak (veja a receita aqui), que costuma aparecer em uma de suas quatro mãos quando é representado na arte indiana.

Hoje de manhã comentei com minha colega, indiana das Ilhas Fiji, que adorei conhecer o Ganesha. Sei o que é recomeçar do zero, adoro guloseimas, e também sou meio goofy. Minha colega contou que recentemente, na Índia, a estátua de Ganesha num templo teria começado a verter leite pela tromba, gerando comoção entre hindus do mundo todo e iniciando uma peregrinação ao local (ela não lembra onde era). Nós rimos, enquanto lembrei de outras histórias semelhantes de santas católicas que choram, sangram, ou aparecem em janelas e sanduíches.

Monday, March 21, 2005

Venceu o free speech

Vocês lembram daquela história que eu relatei no mês passado, sobre o casal de advogados que sofreu cerco e ameaças da direita em Sacramento, por pendurar na frente de sua casa um boneco de um soldado morto em protesto contra a guerra no Iraque? Pois acabo de receber um e-mail do Stephen Pearcy agradencendo pelo meu "nice article"!!! Ele chegou ao meu blog num google search e tentou ler o melhor que pôde. Fiquei super feliz de ele ter reconhecido o meu humilde artigo e se dado ao trabalho de me escrever. Ele me contou ainda que expôs um terceiro boneco de soldado morto, que resiste intocado há duas semanas (os dois primeiros foram arrancados por manifestantes pró-guerra e anti-liberdade de expressão.) Reproduzo aqui o e-mail:

"Dear Leila:
I don't know if this is the right email address for you, but Virginia and I wanted to thank you for writing that nice article about our encounters with opponents of free speech.
Our 3rd soldier display has remained on the house for more than 2 weeks now. Maybe that's because the cameras have gone, or maybe it's because many people have learned that our display is Constitutionally-protected speech. I hope it's the latter.
Thank you again.
Stephen"

Num segundo e-mail (em seguida à minha resposta), Stephen conta que os dois vândalos que arrancaram os bonecos de soldado da casa dele na frente das câmeras não serão indiciados pela promotoria, que alega "falta de provas" (!). "This is an example of how the prosecutor's
office does NOT apply equal protection of the laws. If she doesn't like your politics, you will get less protection than others. This is a flagrant disregard of the US Constitution's guarantee of equal protection for everyone."

Friday, March 18, 2005

O Farenheit 9/11 dos vinhos

Mondovino, documentário do americano Jonathan Nossiter sobre a globalização da indústria do vinho que estréia dia 23 nas telas americanas, tem mais em comum com o filme de Michael Moore do que a participação no Festival de Cannes do ano passado, e o sucesso entre os franceses. Para começar, Nossiter aparece constantemente no filme como entrevistador, e consegue fazer com que seus "vilões" se comportem como perfeitos idiotas diante da câmera. Milionários italianos do vinho na Toscana elogiam Mussolini. O consultor de vinhos Michel Rolland repete o mesmo conselho a todos os clientes de qualquer parte do mundo que o telefonam: "micro-oxigene o vinho, micro-oxigene!". Acima de tudo, os críticos o comparam a Michael Moore porque Nossiter denuncia uma espécie de conspiração dos grandes empresários e consultores de vinho para massificar, homogeneizar o produto e assim matar a singularidade e a própria sobrevivência das pequenas vinícolas. Assim como Moore, Nossiter não tem medo de parecer polêmico e tenta convencer o expectador de sua tese através de uma edição de imagens e cenas impactante e nem sempre muito sutil.

Nossiter sabe do que está falando. Além de cineasta, é um enólogo bem sucedido, criador da carta de vinhos do restaurante Balthazar de Nova York. E se irrita com o fato de tantos vinhos produzidos hoje, seja uma garrafa barata da California ou outra caríssima vinda da Itália, terem gostos tão parecidos. Para ele, a globalização dos vinhos quer acabar com o senso de "terroir", expressão francesa para denotar o sabor único de cada vinho dependendo da região e do fator humano (a forma como se planta, colhe e produz). "Sou um terrorist", diz Nossiter, que mostra claramente no filme sua simpatia pelos camponeses e pequenos produtores, seja na França, Argentina e até no Brasil (família Bianchetti). Há ainda o contraste entre o CEO Patrick Léon, da casa Mouton-Rothschild, descrevendo orgulhosamente o desempenho de sua empresa, enquanto no background um trabalhador peleja na terra. Nossiter não esconde que sua intenção era mesmo fazer um filme sobre a globalização em geral, em termos das relações humanas. O mundo do vinho era para ele o cenário ideal, novelesco para o filme, com suas dinastias, dramas, conflitos entre gerações, entre ricos e pobres. Nesse approach, Nossiter consegue fazer um filme divertido até para quem não entende bulhufas de vinho e das particularidades de sua indústria. Uma última curiosidade: Jonathan Nossiter se mudou recentemente para o Brasil, onde vai rodar seu próximo filme. Eu pesquisei avidamente e não consegui descobrir o tema deste filme; se alguém aí no Brasil já leu alguma matéria sobre ele, podia me matar a curiosidade.

Tuesday, March 15, 2005

Conference call de blogueiros com MSM

Cansados de ver os escândalos e furos jornalísticos descobertos por blogs progressistas serem ignorados ou abafados pela mainstream media americana (MSM), os blogueiros do Democrats.com criaram o BlogCall, uma conferência telefônica para disseminar e partilhar informações sobre os crimes de BushCo, não só entre bloggers, mas também com jornalistas da MSM. Repórteres da CBS, Washington Post, Newsweek e outros já participaram. E a iniciativa já foi divulgada até no New York Times - o problema é que, até numa matéria sobre o esforço de bloggers da esquerda em furar a barreira da mídia, a reportagem acaba descambando para um elogio aos blogs da direita! De qualquer forma, Bob Fertik do Democrats.com continua empenhado em combater corpo-a-corpo o network da direita que funciona da seguinte maneira: dos blogs reaças como Matt Drudge para radio talk shows como Rush Limbaugh para a Fox News e daí para a Mainstream Media. Talvez o que esteja faltando para os progressistas seja um grande multiplicador liberal na TV como a Fox News é para a direita (vide post abaixo).

Thursday, March 10, 2005

Canal anti-Fox

Como a maioria dos meus 7 leitores já sabe, o canal a cabo Fox News é o veículo mais descaradamente reacionário de toda a TV americana, quiçá do mundo, e ainda por cima acusa todos os outros telejornais de serem porta-vozes do Partido Democrata. Em contrapartida, os outros canais, querendo livrar-se das acusações da Fox, Partido Republicano e expectadores fascistóides, acabam pendendo mais para a direita em sua programação, numa autocensura preventiva. A situação da mainstream media americana hoje é triste, desde a falta de indignação com os erros e desmandos do governo Bush, até a superficialidade da cobertura de notícias em geral. Eu sempre me perguntei por que os empresários que apóiam o Partido Democrata ou idéias progressistas não partem para bancar um super canal de notícias que faça contraponto à Fox, CNN, MSNBC e telejornais abertos. Obviamente, não estou sozinha. Quando circulou o rumor de que o ex-vice-presidente Al Gore estaria criando um novo canal de TV a cabo, a esquerda americana se animou toda. No entanto, como esclarece Daily Kos, o canal de Gore será apenas para entretenimento, veiculando reality shows ou documentários criados pelos próprios expectadores. Mas Kos tem informação de bastidores garantindo que já tem "big money" investindo nesse novo canal de "liberal news" sim - sem participação de Al Gore. Só que o projeto não sai do papel tão cedo, nem nos próximos dois anos.

Tuesday, March 08, 2005

Deixa a morena beijar em paz

Extra! Update do caso Chico Buarque-em-beijos-desajeitados-no-Leblon. A própria morena escreveu para o blog de Antônio Carlos Miguel, que publica a versão dela no post Amplificador. Começa a ser revelada uma versão completamente diferente da inicial, em que o marido da moça estaria ameaçando Chico Buarque de morte. Na verdade, a morena Celina de Andrade Lima Sjostedt - designer, fotógrafa e promotora de eventos - tem um casamento aberto com o compositor, cantor e dono de estúdio Ricardo Duna Sjostedt (via Pedro Dória, no post Tablóide). E ainda diz que não é namorada do Chico coisa nenhuma (ou seja, os beijos foram só de brincadeira). Sobre o relacionamento com o marido, ela esclarece: "Apesar de sermos casados e morarmos sob o mesmo teto, temos nossas vidas pessoais independentes". A-do-rei essa reviravolta no caso. Vai mexer com a cabeça dos machistas e caretões desse Brasil afora.

Num update agora pessoal, mas cobrado por um ou outro leitor aqui dos meus posts, queria dizer que, um mês depois da operação a laser que esculpiu as minhas córneas para correção de miopia, estou com a visão mais que perfeita em ambos os olhos. O oftalmologista que me operou exclamava, durante o check-up de hoje: "Que córneas LINDAS!" Gente, realmente me escapa o conceito de uma córnea linda, mas qualquer elogio tá valendo.

Monday, March 07, 2005

O último insulto do Governo Bush

Este governo não é chegado a sutilezas. Especialmente nesse segundo mandato, quando os caras escolheram defensores da tortura para Advogado Geral da União e Embaixador do Iraque - então porque não nomear para Embaixador da ONU um cara que odeia a ONU? O bigodudo reacionário John Bolton, que já disse coisas como "Se o prédio da secretaria da ONU em Nova York perdesse 10 andares, não faria a menor diferença", foi nomeado hoje pela assustadora secretária de Estado Condoleeza Rice.

Estes e outros acintes são noticiados pela grande imprensa americana sem qualquer teor de indignação (reservadas raras exceções de colunistas progressistas). O escândalo do prostituto gay infiltrado na sala de imprensa da Casa Branca como repórter foi completamente abafado. A única coisa que me deixa feliz é que o governo está perdendo a discussão na sociedade sobre a Seguridade Social (leia-se aposentadoria pública), que BushCo está tentando privatizar.

Sunday, March 06, 2005

Steve, não coma isso!

Acompanhe as experiências de Steve, do blog The Sneeze, degustando alguns dos produtos mais nojentos e inacreditáveis que você pode encontrar num supermercado americano, e outras coisas perigosas. Ah, e ele também bebe, puro e misturado com chocolate, o leite bombeado do peito de sua mulher. Via Daily Kos.

Friday, March 04, 2005

Os melhores discos da MPB

O ótimo blog do meu amigo Idelber Avelar, O Biscoito Fino e a Massa, está promovendo a eleição dos 15 melhores discos da MPB. Todo mundo pode participar, com uma lista de seus 10 discos brasileiros preferidos (coletânea não vale). Eu estava trabalhando a minha listinha, e percebi que nem sempre o seu compositor ou cantor ou banda preferida têm o melhor disco; alguns dos meus ídolos acabaram nem entrando nessa minha lista dos melhores álbuns. Se fosse para votar na obra completa, era bem mais fácil. Mas para votar no melhor disco, você tem que analisar cada um individualmente, para ver qual conjunto de músicas é o mais bonito e inspirado, ou que foi mais importante na sua vida. Se você não tem memória de elefante para ter certeza da lista de músicas de cada álbum, é só pesquisar no Clique Music. A votação vai acontecer nesta segunda-feira, 7 de março, mas eu já estou com meu voto pronto e vou revelar aqui, justificando o porquê de cada escolha.

1 - Chico Buarque – Chico Buarque (1978)
Músicas preferidas: quase todas. São obras primas que retratam desde a exaustão e revolta com o regime militar, até a tristeza de romances rompidos, ou crônicas sociais. Apesar de Você, Cálice, Feijoada Completa, Trocando em Miúdos, Pedaço de Mim, Homenagem ao Malandro, O Meu Amor, Pivete, Tanto Mar.

2 - Clube da Esquina - Milton Nascimento e Lô Borges (1972) – Clássico, romântico, nostálgico. Minhas preferidas: Tudo que você podia ser, Nada será como antes, Trem azul, Paisagem da Janela, Um girassol da cor do seu cabelo, Cais, etc.

3 - O Passo do Lui - Paralamas (1984)
Para quem viveu a adolescência nessa época, esse disco não saía da vitrola, e não havia festa em que a gente não pulasse muito ao som dessas músicas. Delicioso de ouvir até hoje. Minhas preferidas: Meu erro, Óculos, Me liga, Mensagem de amor, Fui eu, Romance ideal, Assaltaram a gramática, Ska.

4 - Caetano Veloso – Caetano Veloso (1967)
Foi quando Caetano, já no início, disse a que veio. Músicas preferidas: Alegria, alegria, Tropicália, Superbacana, Soy loco por tí America.

5 - Bicho - Caetano Veloso (1977)
Algumas canções já tocaram tanto que ninguém agüenta mais, viraram clichê de rodinha de violão, mas ainda assim acho lindíssimas. Adoro o baixo de Odara, e a declaração de amor ao filho em Leãozinho. Músicas preferidas: Odara, Leãozinho, Índio, Gente, Tigresa.

6 - Chega de Saudade - João Gilberto (1959)
Essas músicas até hoje figuram entre os clássicos mundiais da bossa nova, com versões em várias línguas, mas as interpretações de João Gilberto ainda são as mais originais e sofisticadas. Esse disco tem Chega de Saudade, Desafinado, Brigas nunca mais, Saudade fez um samba, Bim bom, Oba-la-lá.

7 - Realce – Gilberto Gil (1979)
O Gilberto Gil para mim estaria no topo da lista pelo conjunto da obra, mas já que a votação era por disco, eu coloquei aqui os que agrupavam o maior número de músicas bonitas, o Realce e depois o Luar. Outros discos têm músicas sensacionais, como o Refazenda e Refavela, mas as músicas chatas atrapalham o conjunto. Não quis votar no Unplugged porque, para mim, equivale a uma coletânea. No álbum Realce, minhas preferidas são: Realce, Super Homem, Toda menina baiana, Não chore mais, Marina.

8 - Luar - Gilberto Gil (1981)
Músicas preferidas: Palco (uma das músicas mais alto astral de toda a MPB), Se eu quiser falar com Deus (gente, o que são aqueles vocais da Jane Duboc, mais pro fim da canção? E a letra é linda demais, mesmo para que é ateu), Cores vivas.

9- Com Você … Meu Mundo Ficaria Completo – Cássia Eller (1999)
Qualquer disco da Cássia Eller é bom, porque ela é uma das melhores cantoras do mundo. Músicas preferidas nesse disco: Palavras ao vento, O segundo sol, As coisas tão lindas, Meu mundo ficaria completo, Um branco, um xis, um zero.

10 – Luz – Djavan (1982)
Só quem viveu aquela época pode entender o impacto desse disco. Samurai era um delírio, dançante, jazzy, e com a participação da gaita de Stevie Wonder. Pétala era a maior mela-cueca daquela geração. E Sina, um gostoso ritmo de afoxé. Açaí virou sucesso também na voz de Gal Costa. Músicas preferidas: Pétala, Sina, Samurai, Açaí, Esfinge.

Pois então, concorde ou não com a minha seleção dos melhores discos da MPB, vai lá no Idelber segunda-feira e vote!!!!

Thursday, March 03, 2005

Chico Buarque ameaçado

Chico Buarque foi flagrado por paparazzi da Contigo e da Quem namorando uma jovem e bonita mulher na Praia do Leblon. As fotos saíram na capa das duas revistas dessa semana, e a foto foi reproduzida ainda nos jornais Folha de S. Paulo e Estadão. O problema é que a moça é casada e mãe de três filhos, e o marido, segundo o blog de Ricardo Noblat, está ameaçando Chico de morte. Apanhado num imbroglio que poderia até render uma canção bem divertida de sua autoria, Chico no momento não está achando nada engraçado. Aconselhado por amigos, segundo fontes de Noblat, ele saiu de casa e rumou para local não revelado. A revista Veja está se aproveitando dessa eletrizante fofoca para questionar a "ética da mídia" nessa história (como se a Veja tivesse moral para questionar a ética de quem quer que seja...); vai ser matéria deste domingo. Bem, não sei se a Contigo e a Quem já sabiam que a moça era casada e mãe de filhos quando publicaram as fotos (a Folha retirou a foto no segundo clichê depois de descobrir que ela tinha filhos), mas o certo é que, se Chico Buarque e a moça sabiam, não deveriam ter aparecido juntos à luz do dia em plena praia do Leblon... Famosos ou não, amantes secretos não aparecem namorando em público, a não ser que estejam inconscientemente querendo ser flagrados. Bem, espero que o tal marido se toque que seria extrema burrice tentar qualquer coisa contra o Chico Buarque (ele seria o único suspeito e portanto jogado na cadeia, o que iria destruir ainda mais sua vida e a dos filhos). Aliás, se eu não me engano, a simples ameaça de morte já é crime, e este senhor vai ter que se acalmar e enfrentar a traição com um mínimo de dignidade.

Wednesday, March 02, 2005

O rádio está morto. Viva o rádio!

Grandes empresas como Clear Channel e Infinity são as únicas donas da maior parte das estações de rádio americanas. O resultado disso é uma programação uniformizada, sem ousadia, submissa à censura do governo. Quem se interessa por música realmente alternativa e inovadora tem que recorrer à Internet, em podcastings, em sites que disponibilizam música em MP3, ou em rádios alternativas online. O excelente Mark Morford, colunista do SF Gate (versão do San Francisco Chronicle on line), escreve hoje que as raras estações de rádio realmente independentes e que trazem boa música rock "are few and far between and they're going down faster than shots of formaldehyde into Laura Bush, and while I'm always happy to hear that companies like Clear Channel, that nasty and adorably soulless megacorporate owner of roughly 1 billion preprogrammed radio Dumpsters across the nation, just posted a $4.7 billion loss, there is no new model coming up behind, no pending radio revolution on a large scale, no new way to introduce the world to butt-shaking new artists en masse". Ou seja, blogs e net streams não são suficientes para atingir toda uma geração de ouvintes, como as rádios de rock independentes conseguiram nos anos 60 e 70. A juventude se guiava na expertise de programadores e disc jóqueis para saber quem seria the next big thing, a banda mais revolucionária e que iria mudar a sua vida para sempre. Hoje em dia, os ouvintes desavisados pensam que Matchbox 20 é rock legítimo, ou que Beyoncé faz boa música, e DJs são nada mais que matracas dizendo piadinhas sem graça e anunciando títulos de músicas e eventos da Clear Channel. Morford ainda se agarra à esperança que a revolução dos podcasts contribua, de alguma forma, para o renascimento do rock radio, livre das garras corporativas.