Friday, April 29, 2005

Pílulas do noticiário

Nenê Hilário do Denver Nuggets e Leandro Barbosa do Phoenix Suns são os primeiros brasileiros a participarem de uma temporada playoff da NBA. Nenê está impressionando bem os americanos com sua força física, seus dunks e a rápida adaptação ao estilo de jogo físico, homem-a-homem da liga americana. Por enquanto, a série Denver Nuggets x San Antonio Spurs está empatada, mas acho difícil os Nuggets passarem para a próxima fase. Já o Phoenix parece ser favorito em sua série contra o Memphis Grizzlies, só que Leandrinho é reserva do maravilhoso Steve Nash, portanto ainda não obteve o mesmo destaque de Nenê.

*****************************************************************************

Da série casal-que-não-tem-nada-a-ver: Top Gun & Dawson's Creek. Crise de meia idade?

*****************************************************************************

O Vietnam comemora 30 anos do fim da Guerra e vitória sobre os EUA.

*****************************************************************************

Alguém concorda comigo que o Lula foi bem em sua primeira entrevista coletiva.

Wednesday, April 27, 2005

Perfil da consumidora


blogueira Leila Posted by Hello


Lembram daquela seção fútil e deliciosa do JB? Resolvi entrevistar a mim mesma e ver no que dava.

Carro: Passat Station Wagon 2004, Honda Civic 98.
Lugar mais estranho onde fez amor: no mar serve?
Quem levaria para uma ilha deserta: minha família inteira.
Quem deixaria por lá: os eleitores do Bush.
Pasta de dente: Crest (essa não deu para ser diferente)
Desodorante: Nívea roll-on brasileiro (Ha! Não falei Ban - acho uma porcaria).
Cantora: Marisa Monte, Cássia Eller, Ella Fitzgerald
Cantor: Chris Cornell, Paul McCartney, Robert Plant, Chet Baker
Sapato: Made in Brazil ou Italia
Leituras: gosto de Gabriel García Marquez, José Saramago, romances e short stories americanos, mas também não resisto a um chick lit inglês eventual. E se receber um catálogo da Pottery Barn Kids, eu largo tudo.
Mania: blogar.
Não viveria sem: os abraços e beijos do meu filho de 1 ano e meio.
Poderia viver sem: esportes, especialmente baseball (mas com marido e filho homem nos EUA, isso vai ser impossível).
Novela: Vale Tudo.
Programa na TV brasileira: TV Pirata, Comédia da Vida Privada.
Programa na TV americana: Friends, Mary Tyler Moore, documentário Promises sobre as crianças palestinas e israelenses.
Loja de roupas: Aqui, a Macy's, Banana Republic, Gap, Ann Taylor. No Rio, Shop 126, Maria Filó, Babilônia Feira Hype.
Onde gostaria de estar agora: sentada na minha canga na Praia de Ipanema, conversando com as minhas melhores amigas.
Último filme que assistiu: Diários da Motocicleta, num DVD via Netflix
Um bom programa: fazer wine tasting no Napa ou Sonoma Valleys.
Cidade: Rio de Janeiro, Nova York, San Francisco, Veneza
Ritual de beleza: hoje em dia, que a prioridade é o neném, só dá para passar batom, creme na mão quando já tá rachando, e fazer sobrancelha. Cortar e pintar o cabelo (cor natural) duas vezes por ano. Tirar os fios brancos rebeldes com uma pinça.

Tuesday, April 26, 2005

Chris Cornell é tu-do


Chris Cornell Posted by Hello

Eu nunca tinha dado muita bola para a incensada banda grunge Soundgarden, desfeita em 97. Mas quando o vocalista do grupo, Chris Cornell, ressurgiu em 99 com o disco solo Euphoria Morning, eu caí de quatro. O álbum é maravilhoso, emocionante, haunting, do início ao fim, e o homem tem simplesmente a voz mais linda e dramática do rock americano atual. Os olhos verde-esmeralda, o jeito cool e politizado de Chris ainda vêm de bônus.

Fiquei um pouco decepcionada quando soube que Chris Cornell, em vez de continuar na carreira solo, decidiu se juntar aos ex-Rage Against the Machine para formar o Audioslave, em 2003. O primeiro disco deles é até bacaninha, mas não chega aos pés do Euphoria Morning. De qualquer forma, continuo aguardando novidades. O Audioslave está no momento fazendo um tour pelos Estados Unidos para promover o lançamento de seu novo disco (tocam em Sacramento dia 15 de maio) . Por enquanto, você já pode ouvir o single "Be Yourself" aqui. É catchy. Começa meio devagar, a voz do Cornell até dá uma falhazinha, mas depois ele arrebenta, como de costume.

Quem quiser ver um desses shows em sua cidade, mas a lotação tá esgotada, ainda há chances. Há ingressos sendo leiloados na e-bay em benefício da Axis of Justice, entidade criada por um dos músicos da Audioslave, com um amigo do Sistem of a Down.

Monday, April 25, 2005

Onde há fumaça, há fogo

Um repórter fajuto, que recentemente ainda vendia seus serviços de escort gay na internet, consegue credencial para as disputadíssimas entrevistas coletivas do presidente Bush. Em 2 anos, entra mais de 200 dias na Casa Branca, e nesse período, por quase 30 dias não havia sequer entrevistas coletivas para os jornalistas, ou toda a imprensa que cobre o presidente estava viajando a bordo do Air Force One. Em pelo menos 14 ocasiões, o registro do Serviço Secreto, que anota a entrada e saída de TODO MUNDO que entra na Casa Branca, não mostrava ou a entrada, ou a saída desse "repórter". Em vários desses dias, ele entrava e saía por um ponto diferente do que os jornalistas costumam sair.

Pelo visto, ele era literalmente um media whore.

Sim, estou falando do mais novo detalhe misterioso do escândalo sobre James Guckert, que sob o pseudônimo de Jeff Gannon, conseguia passe de imprensa para a Casa Branca representando a pseudo-agência de notícias Talon News (website criado por um republicano do Texas). Gannon começou a levantar suspeitas dos demais jornalistas quando era escolhido a dedo pelo presidente Bush ou pelo porta voz Scott McLellan para fazer perguntas nas coletivas, passando à frente de jornalistas sérios, consagrados, de meios de comunicação de prestígio. Suas perguntas eram completamente partidárias, no estilo levantando-a-bola-pro-presidente cortar (softballing, como se diria nos EUA). Os blogs Daily Kos e AmericaBlog investigaram o caso a fundo e trouxeram furos de reportagem que obrigaram a imprensa americana a cobrir o assunto. Infelizmente, a influência da direita sobre a mídia nesse país é tão grande que o caso foi abafado. Pelo menos até agora, pois será difícil ignorar esses novos detalhes embaraçosos revelados pelo Raw Story, a partir de documentos obtidos por deputados democratas junto ao Secret Service. Afinal, como pode, em tempos de alta segurança pós-9/11, o Serviço Secreto não se preocupar em sair atrás de um indivíduo que registrou entrada na Casa Branca, mas não a saída? Se não se preocupou, é porque o Serviço Secreto sabia que Guckert está sendo acobertado (com trocadilho, por favor) por um homem muito importante na administração Bush. Seria o todo-poderoso da comunicação republicana e presidencial, Karl Rove? Poderia Rove estar sendo pressionado por outro peixe grande do governo que recebe favores amorosos de Guckert? Numa versão menos picante, seria Guckert um agente do governo infiltrado entre os jornalistas?

São perguntas que não querem calar, pelo menos para quem tem um mínimo de preocupação com a verdade, e não é mero capacho e prostituta vendida para o Governo Bush. O único jornalista mainstream que fez uma cobertura decente do caso Gannon/Guckert foi o Keith Olbermann, da MSNBC. Vamos ver se a MSNBC e outros veículos da mídia se dispõem a cobrir novamente o escândalo a partir das novas informações reveladas pelo Raw Story.

Saturday, April 23, 2005

Sweet Jesus, I hate Bill O'Reilly

Um website hilário para todos os que, como eu, odeiam a Faux (er, Fox) News e seu principal âncora, o falacioso, reacionário, hipócrita, egocêntrico, assediador sexual Bill O'Reilly. Compre a camisa e se muna de argumentos para provar porque ele é uma excrescência da mídia americana.

Friday, April 22, 2005

Rabino e nazista se enfrentam em KC

Bruno, já que você não contou essa, vou entrar no seu território de correspondente brasileiro em Kansas City.

Por incrível que pareça, ainda são realizadas conferências nazistas impunemente em algumas cidades americanas, e seus participantes circulam por aí exibindo suásticas sem problemas, mesmo depois de o nazismo ter sido condenado em tribunais internacionais. No último domingo, no aeroporto internacional de Kansas City, Missouri, um desses monstros chegou perto de um rabino de forma desafiadora, o rabino não se fez de rogado e disse que ele devia se envergonhar de exibir tais símbolos em público. O nazista retrucou chamando-o de "unhuman". Revoltado, o rabino jogou o café que bebia na cara dele, socando-o em seguida. O nazista reagiu socando o rabino na cabeça várias vezes, até chegar um segurança do aeroporto. Pelo que eu vi nessa matéria do Wichita Eagle, os dois foram presos por conduta desordeira, mas como a lei americana não prevê prisão para casos de ofensa racista, o nazista foi liberado e com certeza continuará ofendendo a sociedade com sua ignorância, maldade e preconceito impunemente, a não ser quando um ou outro indivíduo resolver combatê-lo fazendo justiça com as próprias mãos. Uma sociedade civilizada precisa de mecanismos para coibir esse tipo de problema. Cada vez mais, me orgulho da atitude de Grafite e da polícia e justiça de São Paulo.

Thursday, April 21, 2005

Ai, que coisa repetitiva...

Quando comentei ontem com meu colega equatoriano aqui no trabalho sobre a deposição do presidente de seu país, ele não demonstrou qualquer sinal de surpresa ou mesmo indignação. Apenas enfado. Afinal, somente nos últimos oito anos, três presidentes do Equador foram defenestrados. "Já perdi as esperanças com o meu país. É sempre aquela mesma elite corrupta no poder, só estão lá para viver às custas do dinheiro público e para dar empregos e benesses aos seus parentes e amigos". Tentei injetar-lhe uma dose de otimismo, convencê-lo de que mudanças são possíveis através de uma democracia real, imprensa atuante, que o povo equatoriano parece bem politizado e disposto a ir às ruas defender suas reivindicações etc. "It won't change, not in a million years", ele respondeu. "Veja por exemplo, acabei de conversar com minha mãe sobre isso pelo telefone (ela vive em Nova York), sabe qual foi a reação dela? 'Filho, eu conheço o homem que virou presidente, a gente podia tentar entrar em contato com ele, ver se ele nos doa um pedaço de terra...' Acho difícil mudar essa mentalidade." Bem, eu ainda acredito que o povo equatoriano pode achar o seu caminho, mesmo que demore um milhão de anos...

Hoje, nós dois comiseramos com a continuidade desse repetitivo roteiro latino-americano... Gutiérrez irá se exilar no Brasil.

Tuesday, April 19, 2005

Habemus Papam

Não adiantou a torcida contra. O cardeal alemão Joseph Ratzinger foi eleito o novo Papa.

Monday, April 18, 2005

Fábrica de mentiras atropela a Time

É isso que dá colocar como matéria de capa uma das personalidades mais abjetas, mentirosas, racistas e reacionárias da mídia americana, a pundit Ann Coulter. A revista Time, em mais um lamentável equívoco jornalístico, confere relevância a esta mulher que já disse coisas como "bem que o McVeigh poderia ter explodido o prédio do New York Times" ou "Clinton deveria ser impeached ou assassinado", entre outras barbaridades. No ensaio fotográfico que acompanha a matéria, a Time incluiu uma fotografia em que supostos manifestantes contra a Convenção Presidencial Republicana de 2004 carregam um cartaz com a foto de Ann Coulter e a inscrição "Enemy". O detalhe, descoberto pelo blog Attytood e espalhado hoje por toda a blogosfera americana, é que os cartazes eram assinados por um falso grupo chamado "Communists for Kerry", um hoax da direita destinado a atrapalhar a campanha do democrata. Mas os editores da revista não perceberam a óbvia farsa (havia ainda outros cartazes ao lado ironizando os democratas e progressistas) e colocaram como legenda da foto: "Demon and Idol: Protesters blast Coulter at the G.O.P. Convention in New York City last year." Só depois que o blog apontou essa barriga, é que a Time corrigiu sua versão online.

Para quem não conhece, Ann Coulter é figurinha fácil em debates televisivos da Fox News e CNN e em radio talk shows, escreveu best-sellers da direita como "How to talk to a Liberal" e "Treason: Liberal Treachery from the Cold War to the War on Terrorism", em que oferece um cardápio infinito de mentiras deslavadas e calúnias, além de fontes inexistentes. Logo após o 11 de setembro, ela disse: "Nós devíamos invadir seus países, matar seus líderes, e converter todos ao Cristianismo." Em qualquer discussão, seus argumentos são rasos, preconceituosos e esquizofrênicos, mais adequados a uma festa de sorority girls louras embriagadas. Que ela ainda continue falando impunemente na mídia americana, já surpreende; dar qualquer crédito a ela, mesmo que apresentando-a como uma figura "polêmica", como a Time está fazendo, é inaceitável. Se a Time achava que ia conseguir aumentar as vendas apelando para essa matéria de capa, provavelmente se estrepou: na pesquisa do site da revista que pergunta "Does Ann Coulter make a positive contribution to American politics?", a resposta neste momento é de 77% achando que NÃO, e apenas 22,3% dizendo sim.

Infelizmente, Ann Coulter não está sozinha na TV americana, que conta com muitos outros debatedores tresloucados, hipócritas e mentirosos da direita, como Bill O'Reilly, Sean Hannity (Fox), Robert Novak (CNN), e outros que são direita disfarçada de centro, como Wolf Blitzer (CNN). A representação de vozes progressistas ou de esquerda é mínima ou inexistente. Obviamente que isso reflete a tendência ideológica de executivos da TV, mas o novo diretor da CNN, Jonathan Klein, ofereceu uma desculpa completamente esfarrapada sobre isso: "Os progressistas não são raivosos o bastante, e por isso não dão audiência." Como é que é? Nós somos MUITO raivosos sim, a diferença é que não nos deixam mostrar nossa raiva nos programas da TV. Talvez Klein pense assim porque não conheça ninguém realmente progressista, pois em geral, a CNN chama alguém de centro para fazer o papel de esquerda em seus debates.

Saturday, April 16, 2005

O mistério do dedo ao molho de Chili

Anna Ayala estava comendo um ensopado de chili num restaurante de fast food Wendy's em San Jose, California, dia 22 de março, quando de repente deu um escândalo. Encontrara um pedaço de dedo no meio da comida. O caso foi manchete em todo o país -- o que parecia uma lenda urbana, ou um pesadelo total, havia acontecido: o dedo estava já em poder da Polícia, para análise. Mas quando a investigação policial não conseguiu achar qualquer provas de que algum funcionário da Wendy's ou de seus fornecedores teria perdido o dedo durante a produção do chili, as suspeitas de que o dedo teria sido colocado na comida intencionalmente começaram a recair sobre a própria Anna, que poderia estar interessada em arrancar uma indenização da cadeia de fast food. Moradora de Las Vegas, ela já tinha entrado com vários processos contra grandes empresas, incluindo a General Motors, onde trabalhou, e a rede de fast food mexicana El Pollo Loco, alegando que sua filha ficara doente com a comida de lá. Obviamente, ela já tinha um advogado acionando a Wendy's em San Jose, mas desistiu da queixa depois que a Polícia começou a investigá-la, a partir de um mandado de busca em sua própria casa.

Enquanto isso, a rede Wendy's tem perdido fregueses. A queda das vendas em todo o país levou a empresa a demitir funcionários e reduzir a jornada de trabalho dos demais. Desesperada para salvar a sua reputação, Wendy's (cujo dono, um simpático velhinho que sempre aparecia nos anúncios da TV, morreu ano passado e não precisou passar por esse desgosto) também contratou detetives particulares para investigar o caso. Os empregados têm passado sem problemas por todos os testes de mentira e interrogatórios. Ontem, a Wendy's anunciou uma recompensa de 100 mil dólares para quem tiver informação sobre quem seria o original dono do pedaço de dedo encontrado no meio do chili.

Ao que parece, o dedo é de mulher. A unha é longa e pintada. Mas até agora, as pistas que vêm chegando de todo o país sobre pessoas que teriam perdido dedos, não têm levado a lugar nenhum. A impressão digital também não bate com nenhuma no arquivo nacional da polícia. O mistério continua. Seja quem for que plantou o dedo no meio do chili, teria encontrado o dedo em algum cadáver, ou teria também cometido assassinato? Chamem o Grissom para resolver esse caso!

Update em 22 de Abril: A Polícia já prendeu Anna Ayala por considerá-la autora do hoax contra a Wendy's. No entanto, a acusada continua alegando inocência, e ainda não se sabe a origem do dedo.

Thursday, April 14, 2005

Punição exemplar

O zagueiro argentino Desabato, do time de futebol Quilmes, passou esta noite no xilindró (e continua preso enquanto não obtiver habeas corpus) depois de ter xingado o jogador brasileiro Grafite, do São Paulo, de "negrito, macaquito, hijo de una puta" ou coisa que o valha, segundo as denúncias do brasileiro à Polícia, corroboradas em parte por imagens da TV, ontem, em partida da Taça Libertadores. O jogador argentino e sua equipe foram pegos de surpresa com a prisão, e o cônsul argentino em São Paulo, Norberto Vidal, disse ao jornal Clarín que a legislação brasileira contra crimes de racismo é "muito dura".

Aposto que muitos brasileiros estão vibrando com este episódio, como se fosse um gol do Brasil contra a Argentina em Copa do Mundo. No entanto, a lição mais importante a se tirar, tanto para argentinos quando para brasileiros, é que o racismo é crime sério. Grafite deu um exemplo de cidadania e dignidade a todos os brasileiros, negros ou não, ao exigir o cumprimento da lei e o respeito que lhe é devido. Desabato está se defendendo, negando tê-lo xingado de negro, e fazendo-se de vítima injustiçada, mas no fundo ele sabe o que disse, e no futuro pensará duas vezes antes de se dirigir a uma pessoa negra de forma pejorativa. Pelo menos em solo brasileiro. Além disso, a ação da polícia e justiça de São Paulo também fará os brasileiros refletirem sobre seus próprios atos de preconceito e racismo. O velejador e secretário de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo, Lars Grael, disse em entrevista à CBN que o Brasil está dando uma lição ao mundo inteiro ao punir com prisão um episódio de racismo em campo.

O episódio vai acirrar sem dúvida a rivalidade e antipatia entre argentinos e brasileiros no futebol (e fora dele), o que é por um lado lamentável, pois a Argentina também é um belo país que merece ser respeitado e conhecido em sua cultura, muito além dos clichês de Galvão Bueno. Nem todos os argentinos são racistas como Desabato, e muitos brasileiros teriam xingado Grafite igualzinho ao zagueiro do Quilmes. Ter preconceito contra os argentinos também é uma forma de racismo e fascismo.

Monday, April 11, 2005

TV se rende a cristãos fanáticos

Estréia nesta quarta-feira na NBC americana a sombria minissérie Revelations, que embora já estivesse pronta há algum tempo, teve a sorte (ou ajuda de Deus, para quem acredita) de ser lançada logo após os shows Pull the Plug on Terri Schiavo e The Pope is Dead, Long Live the Pope. Revelations é escancaradamente pró-fé, colocando um personagem não religioso, que acredita na Ciência como explicação de todos os fenômenos (Bill Pullman), diante de provas inegáveis da existência do sobrenatural -- e, pior, de que o fim do mundo está próximo, igualzinho ao que se diz no livro do Apocalipse (que é Revelations em inglês - obrigada, Idelber). Os demais personagens principais do programa são ingredientes bem ao gosto da platéia religiosa de direita, chegada a uma violenciazinha, um suspense, e doom & gloom: uma freira fanática que tenta convencer o cientista a acreditar em Deus e participar de sua missão para tentar impedir o fim do mundo; uma adolescente em coma que de repente começa a recitar o livro do Apocalipse em latim, ao mesmo tempo em que o hospital se prepara para desligar seus tubos e usar seus órgãos para doação; e um serial killer, assassino da filha do cientista, que representa Satã na história. Aliás, se você olhar o primeiro link acima, para a home page do programa da NBC, note a pergunta de múltipla escolha do "weekly poll": "O que vai provocar o fim do mundo?" (Respostas possíveis: "Desequilíbrio espiritual"; "desastres naturais"; "holocausto provocado pelo homem". ) O que eu acho engraçado é que a pergunta nem é "o que poderia provocar o fim do mundo", mas sim o que "vai" provocá-lo.

Friday, April 08, 2005

Próximo eleito pode ser o primeiro Papa negro

Católicos ou não, o mundo aguarda com intensa curiosidade a eleição do novo Papa, que começa com a reunião do Conclave dia 18 de abril. Entre os candidatos mais cotados, a maioria segue a linha conservadora (principalmente na área teológica e moral), com exceção do italiano Ennio Antonelli, do belga Godfried Danneels e do alemão Walter Kasper, que têm demonstrado mais tolerância em relação ao papel das mulheres na Igreja e temas como divórcio e contraceptivos. Mas nenhum desses três está no topo da lista, seriam mais ou menos azarões. Na área de justiça social, os mais avançados seriam os cardeais Oscar Maradiaga, de Honduras, Cláudio Hummes, do Brasil, e mais uma vez Antonelli.

Quem parece ser um candidato bem provável a vencer a eleição é o Cardeal Francis Arinze, da Nigéria. Ele tem muita experiência em lidar com muçulmanos e protestantes em sua terra natal, e já fora nomeado pelo falecido João Paulo II para guiar o diálogo inter-religiões do Vaticano. Nesse momento de crise no Oriente Médio, preocupação com terrorismo e outras questões delicadas da globalização, a nomeação de um Papa negro, africano e diplomático seria bem oportuna para o Vaticano, que quer ver a religião católica crescer no Terceiro Mundo e deixar de ser vista como européia e branca. Arinze é considerado intelectualmente sofisticado, carismático e dono de um agudo senso de humor. Entretanto, o fator "cool" de Arinze é neutralizado pelo fato de ser teologicamente conservador.

Mas se o conclave optar pela mesmice, o candidato vencedor seria o italiano Dionigi Tettamanzi, que é também moralmente conservador e é muito querido pelos religiosos e pela mídia na Itália, país com o maior número de votantes. Outra opção nessa linha seria o cardeal italiano Angelo Scola, de Veneza, considerado um intelectual defensor de posições conservadoras.

Wednesday, April 06, 2005

Shriver faz ponte entre Arnold e democratas

Não há dúvida que o Governador Arnold Schwarzenegger é a maior celebridade de Sacramento, e que é impossível para os moradores da cidade não saírem por aí contando vantagem quando o avistam num restaurante, passando de carro na rua ou no lobby do Hotel Hyatt, onde ele dorme quando está aqui. Mesmo assim, ele ainda é odiado pelos democratas, pelos eleitores progressistas, feministas e trabalhadores de sindicato -- principalmente os de enfermeiros e professores. Se há alguém que consegue manter a popularidade entre políticos e eleitores de todos os matizes, em Sacramento e beyond, é a primeira-dama da Califórnia, escritora e jornalista Maria Shriver. Inteligente, chique e cheia de entusiasmo, com o rosto magro e quadrado típico do clã Kennedy, Maria dedica-se a causas nobres e, apesar de apoiar o marido publicamente em todos os momentos, continua sendo democrata e tenta influenciar Schwarzenegger a mudar de idéia quando ela não concorda com algum programa de governo. Dizem que foi Maria quem convenceu o governador a não cortar parte dos programas estaduais de apoio a deficientes mentais. Mais do que isso, o escritório de Maria Shriver é o go-to place para os políticos democratas que sentem dificuldade em negociar diretamente com o gabinete do governador republicano. "She's a great buffer", diz o porta-voz da Assembléia Estadual, Fabian Nuñez.

Filha de Eunice Kennedy - irmã do presidente John Kennedy e fundadora das Special Olympics para deficientes - e Sargent Shriver - criador do Peace Corps e de vários programas de benefício a comunidades economicamente desfavorecidas nos EUA - Maria Shriver segue o legado da família na área pública e também privada, com sua extensa prole (para os padrões hollywoodianos) de quatro filhos. No entanto, Maria fugiu totalmente ao que se esperava de uma Kennedy ao se casar há 19 anos com o ator, body builder e republicano Schwarzenegger, em vez de optar por algum tipo intelectual democrata americano de pedigree. "Eu queria alguém diferente dos East Coast preppies que estavam à minha volta o tempo todo." Quando ela conheceu Arnold em 77, durante um campeonato de tênis beneficente, os dois logo sentiram uma enorme atração física um pelo outro, e segundo o irmão mais velho Bobby Shriver, os dois adoram pregar peças (Maria teria jogado uma torta na cara de Arnold na fase de paquera). Maria também gostou do jeito escrachado do ator, que fala o que dá na telha e não tenta se passar por intelectual (ele admite que nem gosta muito de ler). Ao que parece, a afinidade sexual ainda é grande no casamento deles. "After all these years we are still engaged with each other, hot for each other, into each other. There hasn't been a moment when I have been bored", disse Maria numa entrevista à Vanity Fair ano passado.

Mas o casamento também enfrentou provações, como as denúncias de que Arnold Schwarzenegger assediava sexualmente várias mulheres nos sets de seus filmes - informação que surgiu primeiro em 2001, na revista de cinema Premiere, e foi resgatada pelo Los Angeles Times em 2003, na campanha pela eleição recall a governador da California. Segundo o LA Times, há 16 mulheres acusando Schwarzenegger de tê-las assediado, agarrado ou humilhado publicamente, num período de 25 anos. Durante a campanha eleitoral, Shriver foi uma rocha e se manteve no palanque até o fim, dizendo não acreditar nas denúncias. No entanto, ela é um pouco mais ambígua na entrevista à Vanity Fair, admitindo que algumas acusações procedem, mas que devem ser relevadas. "Você tem que separar o que é realidade e o que é a percepção das outras pessoas."

Ainda tento entender o que faz uma mulher da inteligência de Maria se apaixonar por um bruto como Schwarzenegger. Talvez seja uma mistura de compatibilidade na cama, senso de humor, companheirismo, sintonia nas ambições. Mas como é que você consegue continuar casada com alguém que, segundo fontes seguras, sai passando a mão em outras mulheres, apalpando peitos e bundas sem pedir licença? Por mais liberal que eu seja, é o tipo da coisa que eu não admitiria ja-mais.

Tuesday, April 05, 2005

A invasão das borboletas

Ontem, ao ser envolvida por uma nuvem de borboletas cor-de-laranja, me senti o próprio Mauricio de Cem Anos de Solidão. Mas elas não estavam ali por minha causa. Milhões de borboletas Painted Lady (Bela Dama, ou Vanessa-dos-cardos) passaram ontem por Sacramento, em seu magnífico movimento migratório desde o deserto na fronteira dos EUA e México até o Noroeste americano. O fenômeno só é percebido facilmente quando há uma migração em massa, o que acontece entre uma e duas vezes por década, quando há muitas chuvas de inverno nas áreas desérticas do sudoeste americano/noroeste do México, fazendo brotar mais plantas e flores -- que deixam as lagartas super bem alimentadas, com um grande estoque de gordura. A última vez que isso aconteceu foi depois do El Niño de 97/98. E os observadores dizem que o espetáculo que eu presenciei foi ainda mais impressionante que o de 7 anos atrás. Era incrível ver todas essas borboletas, numa grande faixa de extensão, mas todas indo para a mesma direção, noroeste. Observei-as em maior número na hora do almoço, mas ainda era grande a concentração às cinco da tarde, quando voltei para casa, e vi-as tentando evitar os carros na freeway, e depois passando por cima do telhado da minha casa, ou por cima da cabeça do meu filho.

As painted ladies voam em média entre 6 e 12 pés de altura, passando por cima de obstáculos, mesmo os mais altos, como edifícios, em vez de desviar pelo lado, por milhares de quilômetros. Em menos de uma semana, elas conseguem viajar do México até o Vale Central da California, chegando à base da Serra Nevada. Aí elas já estão meio com fome, mais ou menos aqui onde eu moro, param para se abastecer em florzinhas e desovar. Algumas vão acabar espatifadas nos pára-brisas de carros, mas a população é grande o suficiente para se manter e reproduzir. Os ovos das painted ladies que nascerem entre Sacramento e as foothills vão depois se transformar em lagartas e borboletas e voar novamente para Noroeste em Maio, em direção à costa do Pacífico. No outono, elas fazem a viagem inversa para o sul.

Monday, April 04, 2005

Reminiscências papais

A morte do Papa João Paulo II me levou a uma viagem no tempo. Sim, porque antes de me converter ao ateísmo aos 18 anos, e de desafiar um bispo carioca em carta, aos 16 anos, sobre os dogmas do catolicismo e o combate à Teologia da Libertação, eu era mais uma criança criada por uma católica fervorosa e educada em colégio de freiras. A primeira lembrança que me veio à mente foi a morte do Papa Paulo VI, e em seguida a escolha de João Paulo I, que todos diziam ser um homem tão bonzinho, mas o pobre mal esquentou a cadeira de papa e logo morreu também, deixando as freiras do meu colégio de luto e os alunos felicíssimos com o feriado que caíra do céu. Lembro vagamente de haver algumas teorias conspiracionistas sobre a morte dele, alguém o teria envenenado, seria meio liberal, ou coisa parecida. Daí veio o João Paulo II, um papa que parecia bem saudável, não muito velho, esquiava e tudo, então todos ficaram tranqüilos que ele não iria morrer tão cedo. No ano de 1980, ele visitou o Brasil. Gente, foi uma histeria no Rio de Janeiro, se o Michael Jackson daquela época viesse, não teria causado tamanha comoção. Para os católicos mais tradicionais, era quase como se o próprio Jesus Cristo estivesse nos dando a honra de sua visita. Então, fomos eu, Mamãe e irmãos nos juntar à multidão que se formou no Largo do Machado para ver João Paulo II passar de carro. Horas e horas de espera, para mal ver o topo do chapéu do cara passar por cinco segundos. No dia seguinte, fomos então ver a missa do Papa no Aterro. Show de Roberto Carlos, mulheres indo às lágrimas e desmaiando. Eu me sentia presenciando um momento histórico, e como aos 12 anos eu nunca tinha ido a um concerto de rock ou outro evento em multidão, curti horrores. Mas ainda lembro muito pouco desses momentos que foram tão importantes para a minha mãe, que morreu sempre católica e acreditando na santidade do Papa. Não consigo lembrar da felicidade no rosto dela, da antecipação... Só lembro do esforço que eu fazia para esticar o pescoço e pegar um mínimo glimpse da figura do papa, no meio da multidão de cabeças quase sempre mais altas que a minha.

Friday, April 01, 2005

"Precisamos que Marley passe uns dois dias conosco"

Se você ganha um emprego no canal de TV inglês BBC Three, e trabalha produzindo documentários jornalísticos, supõe-se que você tenha um mínimo de cultura geral. No entanto, tem gente no canal que não sabe que Bob Marley morreu (há 24 anos, by the way). Alguém na equipe de produção de um futuro documentário sobre a música "No Woman No Cry", do BBC Three, mandou um e-mail para a Bob Marley Foundation falando sobre o projeto, dizendo que precisaria que Marley passasse "uns dois dias conosco", e que o programa "would only work with some participation from Bob Marley himself".

A gafe obrigou a BBC a publicar um envergonhado pedido de desculpas: "We are obviously very embarrassed that we didn't realise that the letter to the Marley Foundation did not acknowledge that Mr Marley is no longer with us." Perguntado por um repórter da AFP, o porta-voz da BBC garantiu que o e-mail não foi uma piada de Primeiro de Abril.