Stuck in Baltimore: As bolas do ofício
Será que o cargo de presidente ainda representa algo mais do que um simples garoto-propaganda de políticas e filosofias de um governo? Existem ainda homens-fortes (que não sejam ditadores) onde as decisões e a responsabilidade destas esteja exclusivamente nas mãos da pessoa número 1 dentro de um grupo ideológico? Ainda se pode falar em presidentes com o gravitas político de um Roosevelt, um Churchill, um Charles de Gaulle? Às vezes acho que não (apesar de que exceções existem). Principalmente tendo em vistas as gafes, despreparo e desatinos públicos de gente como George W. Bush, Lula e Vicente Fox.
Na moita, Lula disse algo durante sua visita à Tokyo que poderia ter descambado para o campo das provocações futebolísticas: "Tem que ter saco pra aguentar os argentinos" ("Hay que tener bolas para bancar a los argentinos", como foi publicado no jornal Clarín). Nada demais, certo? Afinal, estamos às vésperas de um partido crucial pelas Eliminatórias da Copa 2006 e a retórica já está crescendo. Além do que, a frase foi dita numa sessão informal com uma série de ministros.
O problema? O contexto não tem nada a ver com o caso "Grafite", o partido de logo mais ou outras "amenidades". O fato que causa fricção é o interesse brasileiro em conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e a oposição argentina nessa e outras frentes. Isso em si, merece um post aparte. Mas mesmo que lembre papo de bar ou de mesa redonda de futebol, o Presidente também mandou a seguinte pérola: "Muitos me recomendam que chute o balde; mas acho que o Brasil deve tolerar os argentinos." O bafafá político na Argentina impediu que o caso fosse mais além (alguns sentiram até orgulho do incômodo que causam à Lula).
A questão aqui não é a graça folclórica do acontecimento ou se o Brasil merece ou não a cadeira na ONU, mas a real importância do que um presidente diz. Afinal de contas, é uma posição a ser exercida 24 horas por dia pela duração do mandato. Os holofotes vem com o emprego, isso todo mundo sabe. Apesar de que falar mal dos argentinos é um hobby nacional (principalmente, no que se refere às 4 linhas) e pode ser sempre muito engraçado, me parece que a diplomacia deveria ser manejada com mais cuidado. Como garoto-propaganda, o charme de Lula (descrito exemplarmente pela genial Lucia Malla) é real e útil ao governo. Ele não precisa arranhar essa imagem em aparições públicas ou semi-públicas, quando o governo luta para manter frágeis bases de apoio nacional e internacional. Vou ser chato: a Argentina é útil ao Brasil, sim, apesar de tudo. Vou ser ainda mais chato: que tal chutar o balde da pobreza, que não serve a ninguém?
Por outro lado, mais grave foi o que o presidente do México (Vicente Fox) falou em um discurso para empresários: "Os imigrantes mexicanos que vão aos EUA estão ocupando posições de trabalho que nem os pretos americanos querem mais fazer". Apesar de severas críticas, o governo mexicano quer deixar o caso como está, sem pedido de desculpas nem retirar o que foi dito. E nem vou falar aqui das inúmeras gafes públicas de Bush, durante estes últimos 4 anos. Essas são igualmente (ou até mais graves) e todo mundo já conhece. Enfim, com garotos-propaganda como estes, quem precisa de inimigos?
by Fernando.