Tuesday, May 31, 2005

Stuck in Baltimore: As bolas do ofício


Será que o cargo de presidente ainda representa algo mais do que um simples garoto-propaganda de políticas e filosofias de um governo? Existem ainda homens-fortes (que não sejam ditadores) onde as decisões e a responsabilidade destas esteja exclusivamente nas mãos da pessoa número 1 dentro de um grupo ideológico? Ainda se pode falar em presidentes com o gravitas político de um Roosevelt, um Churchill, um Charles de Gaulle? Às vezes acho que não (apesar de que exceções existem). Principalmente tendo em vistas as gafes, despreparo e desatinos públicos de gente como George W. Bush, Lula e Vicente Fox.

Na moita, Lula disse algo durante sua visita à Tokyo que poderia ter descambado para o campo das provocações futebolísticas: "Tem que ter saco pra aguentar os argentinos" ("Hay que tener bolas para bancar a los argentinos", como foi publicado no jornal Clarín). Nada demais, certo? Afinal, estamos às vésperas de um partido crucial pelas Eliminatórias da Copa 2006 e a retórica já está crescendo. Além do que, a frase foi dita numa sessão informal com uma série de ministros.

O problema? O contexto não tem nada a ver com o caso "Grafite", o partido de logo mais ou outras "amenidades". O fato que causa fricção é o interesse brasileiro em conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e a oposição argentina nessa e outras frentes. Isso em si, merece um post aparte. Mas mesmo que lembre papo de bar ou de mesa redonda de futebol, o Presidente também mandou a seguinte pérola: "Muitos me recomendam que chute o balde; mas acho que o Brasil deve tolerar os argentinos." O bafafá político na Argentina impediu que o caso fosse mais além (alguns sentiram até orgulho do incômodo que causam à Lula).

A questão aqui não é a graça folclórica do acontecimento ou se o Brasil merece ou não a cadeira na ONU, mas a real importância do que um presidente diz. Afinal de contas, é uma posição a ser exercida 24 horas por dia pela duração do mandato. Os holofotes vem com o emprego, isso todo mundo sabe. Apesar de que falar mal dos argentinos é um hobby nacional (principalmente, no que se refere às 4 linhas) e pode ser sempre muito engraçado, me parece que a diplomacia deveria ser manejada com mais cuidado. Como garoto-propaganda, o charme de Lula (descrito exemplarmente pela genial Lucia Malla) é real e útil ao governo. Ele não precisa arranhar essa imagem em aparições públicas ou semi-públicas, quando o governo luta para manter frágeis bases de apoio nacional e internacional. Vou ser chato: a Argentina é útil ao Brasil, sim, apesar de tudo. Vou ser ainda mais chato: que tal chutar o balde da pobreza, que não serve a ninguém?

Por outro lado, mais grave foi o que o presidente do México (Vicente Fox) falou em um discurso para empresários: "Os imigrantes mexicanos que vão aos EUA estão ocupando posições de trabalho que nem os pretos americanos querem mais fazer". Apesar de severas críticas, o governo mexicano quer deixar o caso como está, sem pedido de desculpas nem retirar o que foi dito. E nem vou falar aqui das inúmeras gafes públicas de Bush, durante estes últimos 4 anos. Essas são igualmente (ou até mais graves) e todo mundo já conhece. Enfim, com garotos-propaganda como estes, quem precisa de inimigos?

by Fernando.

Friday, May 27, 2005

Stuck in Baltimore: Os filibusteiros


Decidi abrir minha estadia aqui no "Stuck in Sac" com um post sobre certos acontecimentos que ficam escondidos nessa novela que é o emaranhado político do dia-a-dia. Pouca gente tem saco de ler todos os detalhes e, muitas vezes, eventos fundamentais acabam ocorrendo bem debaixo dos nossos narizes (graças ao sorrateirismo e a famosa "lenga-lenga" dos políticos). Até fiquei na dúvida se deveria começar com a guerra do filibuster, pois, além de enrolada, não sei ao certo o quanto tem se falado sobre isso fora dos EUA. Vocês me dirão se vale a pena, aqui vai.

O filibuster é uma medida legislativa controversa. Tem sido bastante usada no âmbito político americano, principalmente no Senado, onde um lado partidário evita um assunto espinhoso através de táticas que atrasem um debate (ou uma votação) em questão. Geralmente isso ocorre quando um senador inicia um discurso e não pára mais, atrasando a agenda da casa (o que muitas vezes vara dias e noites). A história do filibuster merece uma lida porque, além de contar casos hilários, demonstra como a medida já foi usada por vários lados ideológicos e por diversas razões.

O problema em foco, atualmente, é a nominação judicial de certos advogados e juízes indicados por Bush (alguns pra lá de conservadores) e o controle pela "alma" da Suprema Corte americana, que está pra abrir algumas vagas (onde leis fundamentais que regem o país são estudadas e/ou modificadas). É notório que existe uma preparação reacionária para assaltar Roe vs. Wade, o evento jurídico que legalizou o aborto nos EUA, além de quererem detonar várias outras questões de direitos humanos na mira de grupos como a direita radical e os religiosos. Já que os Republicanos detém a maioria do Senado, a única chance que os Democratas tem de evitar desatinos é através do filibuster. A tática funcionou tão bem (abusivamente, segundo a Casa Branca) que os Republicanos ameaçaram inventar a chamada 'nuclear option', que elimina essa manobra e praticamente força o Senado a aceitar goela abaixo os indicados de Bush.

E porque isso é importante? Porque um grupo de 7 senadores Republicanos e 7 Democratas resolveram se juntar e formar um consenso, onde os Democratas aceitam certas nominações enquanto que os Republicanos desistem de implementar a 'opção nuclear'. As ramificações são várias:

- Os líderes dos Democratas (Harry Reid) e Republicanos (Bill Frist) ficaram de fora nessa negociação. Esta é a primeira tentativa real de desmontar a divisão extrema em que se encontra a política e o país, e está sendo feita através do centro e sem consultar as lideranças políticas. O que vai acontecer com o acordo em si e estes 14 senadores (a chamada "gangue dos 14"), será um indicativo se isso ainda é possível num ambiente onde discordar de alguém automaticamente te transforma em inimigo.

- O evento é um medidor de candidatos à presidente dos EUA em 2008. Tanto pelos envolvidos no acordo (John McCain, particularmente) quanto pelos que ficaram de fora (Frist, George Allen e, possivelmente, o próprio Reid). Todos os 14 senadores correm o risco de serem estraçalhados pela mídia e pelos extremos ideológicos (como já está acontecendo na blogosfera americana), que hoje dominam cada vez mais o mainstream estadunidense. Ou seja, pode tanto ser um suicídio político quanto um às na manga, a ser usado daqui à 2 anos.

- O tiro pode sair pela culatra para os dois partidos. As vantagens para os Republicanos são imediatas: Priscilla Owen e outros dois candidatos judiciais controversos serão efetivados (Owen foi bloqueada por filibusters por 4 anos). De tabela, o sinistro John Bolton poderá ser confirmado como embaixador americano na ONU. Pode se dizer que os Democratas tiveram que ceder mais do que queriam e não há garantias de que a 'opção nuclear' não volte à cena. Por outro lado, o acordo enfraquece a direita mais conservadora do partido e manda uma mensagem à Casa Branca de que o consenso (leia-se "chave de braço") estabelecido pelo Executivo não é tão firme assim.

- A medida também mede a dependência dos dois partidos em relação aos 'interesses externos' ('special interests', como se diz aqui). Por interesses externos, leia-se grandes corporações, sindicatos, extremistas religiosos, Wall Street, grupos pró e contra o aborto e por aí vai. Em particular, o líder dos Republicanos no Senado, Bill Frist, está numa sinuca de bico. Tendo se atrelado aos conservadores religiosos, Frist depende desesperadamente do apoio daqueles que são contra o aborto, contra certas medidas anti-AIDS, contra a pesquisa que envolva embriões humanos e contra o direito ao fim de vida planejado. Estes grupos querem porque querem que o filibuster "morra", para que mais juízes conservadores entrem em posições onde possam incluir tal agenda. Em uma certa entrevista televisiva, Frist se embananou todo ao evitar em condenar certos grupos financiados pela Casa Branca que insistem em dizer que a AIDS pode ser transmitida através de lágrimas. O caso é grave, pois Frist já foi médico e sabe o quão confusas e distorcidas são tais afirmações. Se o pacto morrer, poderá ser uma vitória de tais interesses.

- Finalmente, essa trégua medirá o que o país quer dos seus legisladores: o confronto direto ou o consenso político. Também mede importantes decisões filosóficas. O que vale mais a pena: os ganhos imediatos ou a manutenção de regras que defendam as minorias políticas (independentemente de qual sejam estas)? Até porque hoje os Republicanos estão por cima, mas isso não acontecerá sempre. Por último, é um teste de força para a Casa Branca e para os Democratas (estes são hoje em dia uma minoria cada vez mais acuada em várias frentes). E isso é apenas o começo.

by Fernando.

Thursday, May 26, 2005

Stuck in Baltimore: O início


Olá, pessoal. Vou escrever algumas cositas aqui no blog da Leila, enquanto ela relaxa nessa belíssima mistura de caos urbano e natureza exuberante que nós concordamos em chamar de Rio de Janeiro. Pra quem não me conhece, eu sou o Fernando e escrevo o blog Numero12, através do qual conheci minha alma gêmea blogueira, a Sra. Couceiro. Como disse antes, vou manter o espírito do blog, adicionando um pouco da minha própria experiência no país do Tio Sam. Podem seguir comentando à vontade (ou não, se não tiverem vontade), que eu prometo ser todo ouvidos. Tudo o que eu escrever aqui obviamente incluirá minhas próprias opiniões, idéias, e impressões sobre este país, visto desde a costa Leste, já que moro na cidade de Baltimore (logo acima de Washington DC). Estes virão acompanhados do meu gosto pessoal, distorções e possíveis erros. Ao contrário do Zagalo e dos remédios com mau gosto, vocês não tem porque me engolir. Espero que gostem!

Posted by Fernando.

Wednesday, May 25, 2005

Blogueiro Interino e férias

O Samba do Avião já está ecoando na minha cabeça. Amanhã, quinta-feira, parto do aeroporto de San Francisco em direção ao Rio de Janeiro, onde ficarei por 3 semanas. Por enquanto estou na fase que eu mais detesto, a ansiedade dos preparativos, a impossibilidade de levar tudo que eu quero nas malas, o medo de o dinheiro não ser suficiente, e pena de submeter o meu filho a 15 horas dentro de um avião (em dois vôos), sem poder correr e brincar livremente como ele gosta. O fato de que eu nunca consigo dormir um minuto sequer numa cadeira de avião também não ajuda muito. Mas tudo isso vale a pena para rever família, amigos, o mar de Ipanema, e poder saborear a culinária brasileira em cada esquina.

Enquanto eu estiver no Rio, meu acesso à Internet será bem esporádico. Para manter este blog ativo, eu convidei o Fernando Ferrante - outro carioca exilado nos EUA com quem eu me identifico muitíssimo - para ser o Blogueiro Interino do Stuck in Sac. Fernando vai postar aqui e também no seu Número 12, e eu agradeço demais que ele tenha aceito essa tarefa de capitanear dois blogs ao mesmo tempo, apesar de todas as responsabilidades que ele já acumula. Fernando, bem vindo a esta casa, obrigada e muito sucesso na sua dupla blogagem. Tenho certeza que meu público vai gostar muito de você.

Tuesday, May 24, 2005

No berço dos hippies, a yoga nudista

San Francisco hoje é uma das cidades mais caras de se viver nos Estados Unidos. Yuppies hoje são a maioria até em bairros como o Haight-Ashbury. Mas a cultura hippie e alternativa ainda resiste - mesmo os yuppies da região são os mais mudernos que você poderá encontrar. Não me espanta, portanto, que tenha surgido em uma academia alternativa de San Francisco uma aula de yoga nudista, unindo homens e mulheres interessados em se despir de tabus e aprender a aceitar e reverenciar o próprio corpo. "Não há nada de sexual nessa aula, o conceito é transformador", garante Rob Kandell, gerente do One Taste Urban Retreat Center, em Folsom Street, que oferece essa nova modalidade de yoga. A professora começa a aula fazendo os alunos entrarem no clima no momento de se despirem, tirando as roupas com delicadeza e dobrando-as com cuidado, simbolizando a "sacralidade" do momento e do corpo, que é o "nosso próprio templo". Os alunos têm idades variadas, dos 20 aos 60 anos, e buscam a yoga nudista por diversos motivos, desde a sensação de liberdade e concentração, até a fuga dos desfiles de moda que acontecem em outras academias de yoga.

Monday, May 23, 2005

Convenção de blogueiros

O blog americano Daily Kos cresceu tanto que sua comunidade de milhares de leitores e amigos está organizando uma grande convenção para o ano que vem, a Yearly Kos 2006. O objetivo é reunir blogueiros, leitores e militantes progressistas interessados em discutir estratégias políticas de blogagem e ativismo. Um detalhe legal é que todos os leitores podem contribuir com idéias para a agenda e se inscreverem como voluntários para trabalhar no evento. Provavelmente, amigos de Markos como Howard Dean, Al Franken e Jeannine Garofalo estarão entre os palestrantes. Bacana, né? Se eu tivesse mais dinheiro e férias sobrando, eu iria me inscrever para participar do evento. Bem, vou esperar para ver se eles escolhem um local aqui perto de casa, e aí eu farei tudo para ir. Para quem estiver interessado em se pré-registrar, dê um pulinho aqui.

MARCO NA BLOGAGEM NACIONAL - A nossa querida blogueira Lúcia Malla, bióloga feríssima que vive na Coréia do Sul, topou o desafio de se tornar correspondente jornalística por uma semana e blogar, ao vivo, sobre a visita do presidente Lula àquele país, para o Fórum de Governância da ONU e alguns encontros com autoridades e empresários coreanos. Boa sorte e bom trabalho, coleguinha!

Friday, May 20, 2005

Olho nele

Ex-sindicalista que não terminou o segundo grau, criança pobre que venceu na vida pelo próprio esforço e se tornou deputado... Assim como o de Lula, o passado do candidato democrata Antonio Villaraigosa, latino que ganhou a eleição para prefeito de Los Angeles essa semana, é visto por uns como virtude, e por outros como defeito. Os conservadores, mesmo latinos, não queriam um prefeito pró-sindicato; para a esquerda e os eleitores mais pobres, o fato de que Villaraigosa conhece pessoalmente a realidade dos barrios pobres de LA foi uma forte razão para votarem nele.

Mas o caminho não foi tão fácil. Na eleição anterior, outro democrata, mais conservador, o branco James Hahn, venceu a prefeitura ao aglutinar o voto dos republicanos ou dos brancos insatisfeitos com o crescimento da influência latina na cidade (hispânicos são 48% da população, embora muitos ainda sejam ilegais e representem apenas 23% dos eleitores registrados). Mas a estratégia mais cruel de Hahn foi tentar jogar a população negra contra os latinos. Como a imigração mexicana a Los Angeles é muito forte, Hahn incitou nas comunidades negras mais pobres uma revolta contra os latinos, que estariam tomando conta do mercado de trabalho. Hahn já tinha alguma penetração no eleitorado negro porque seu pai fôra um ativista em direitos civis. Mas este ano, Villaraigosa conseguiu derrotar a estratégia racista e unificar latinos, negros e brancos em torno de sua candidatura. "I intend to be a mayor for all Los Angeles," Villaraigosa, 52, said, after expressing pride in his Mexican heritage. "In this diverse city, that's the only way it can work."

Villaraigosa é o primeiro prefeito latino de Los Angeles em 133 anos (em 1872 nem conta, porque a cidade era apenas um lugar empoeirado na fronteira Oeste, com cerca de 5 mil habitantes). Seu sucesso nesta eleição o alça como um dos principais nomes do partido na esfera nacional. Quem sabe ele se torna um futuro candidato à Casa Branca, e os Estados Unidos poderão contar, como o Brasil, com um ex-sindicalista na presidência. No mínimo, ele se torna o nome mais viável para derrotar Schwarzenegger na próxima eleição para governador da California.

Thursday, May 19, 2005

Case closed

Para quem ficou curioso sobre a solução do caso do dedo que foi "plantado" no chili bowl da Wendy's: James Plascencia, o marido de Anna Ayala - a tal que fingiu ter encontrado o dedo na comida -, foi quem conseguiu o espécime. Um colega dele numa empresa de pavimentação em Las Vegas, que lhe devia 50 pratas, teve o dedo decepado num guindaste durante uma obra. Plascencia imediatamente teve a idéia de usar o dedo para extorquir dinheiro de alguma cadeia de restaurantes, e disse a esse colega, Brian Rossiter, que a dívida estaria paga se ele lhe entregasse o dedo. Os testes já foram feitos e confirmaram que o pedaço de dedo realmente pertence a Rossiter.

A descoberta foi feita pelo dono da empresa onde os dois trabalhavam. Ele sabia que Rossiter perdera um dedo, e ao tomar consciência que Plascencia era marido de Ayala, ligou uma história à outra e fez a denúncia à Polícia - também interessado na recompensa de $100 mil oferecida a quem tivesse uma pista decisiva para o caso.

Tuesday, May 17, 2005

Impeachment já para os Garotinhos


arte de Leandro Gejfin Posted by Hello

Cabe agora ao TRE do Rio de Janeiro acatar ou não a sábia decisão da juíza Denise Oliveira, da Zona Eleitoral de Campos, de tornar o casal Rosinha e Anthony Garotinho inelegível por 3 anos, por abuso de poder político e compra de votos. Esse é um momento chave para a sociedade se mobilizar e fazer pressão sobre o TRE para que vote a favor da inelegibilidade dos Garotinhos, e até mais, para que a Assembléia Legislativa do Rio promova o impeachment imediato de Rosinha Garotinho.

O Idelber Avelar já iniciou um movimento de pressão internética para defender a decisão da juíza (que está sob ataque pessoal dos Garotinhos) e a apuração detalhada das atividades ilegais do evangélico casal zero da política fluminense. Eu sugiro que todos que entre nós tiverem contatos com deputados do Rio de Janeiro ou com os dirigentes estaduais do partido, ou com a OAB, UNE, que comuniquem o nosso desejo de impeachment já para Rosinha e seu marido Bolinha, e de organização de manifestações de rua imediatas para levar ao povão esse movimento.

Monday, May 16, 2005

Entregando a idade

No dia em que eu nasci, a música em primeiro lugar nas paradas americanas era Mrs. Robinson, do Simon & Garfunkel, tema do filme "A Primeira Noite de um Homem" (The Graduate). Como eu descobri isso? Através desse link, cortesia do blog da DaniCast. A brincadeira é deliciosa, mas vou avisando, que à medida que o tempo passa, os primeiros lugares vão ficando mais insossos e bregas. No dia em que fiz 21 anos, por exemplo, a primeira música era do New Kids on the Block. No dia do meu casamento, "Unbreak my Heart", de Toni Braxton. No dia em que meu filho nasceu, em setembro de 2003, o primeiro lugar era uma coisa chamada "Shake your tailfeather", dos pseudo-rappers Nelly e P. Diddy.

Sunday, May 15, 2005

Fixação (anal) na família

Nomeado pelo presidente Bush para fazer parte do Comitê de Saúde Reprodutiva do Food and Drug Administration, o ginecologista e evangélico fanático David Hager é um ferrenho opositor do uso de contraceptivos, do sexo antes do casamento e do aborto. Ele é mais um integrante da missão dos Talebush para impedir a aprovação de remédios de contracepção de emergência (a pílula do dia seguinte), que os reaças consideram abortiva, mas qualquer médico sério sabe que a pílula impede simplesmente que o ovo se firme na parede do útero, ou seja, a gravidez não chega nem a acontecer. O Dr. Hager, membro também do conselho de médicos da organização fundamentalista cristã Focus on the Family, tem mania de dizer que "foi escolhido por Deus" para ocupar tal cargo no governo Bush. Deus, entretanto, não o poupou da humilhação de ser acusado por sua ex-mulher, Linda Davis, de forçá-la a fazer apenas sexo anal, sem consentimento dela, repetidamente entre 1995 e 2002, quando ela finalmente teve coragem de pedir o divórcio.

A hipocrisia desses defensores da moral e dos bons costumes no governo Bush parece ser a regra, onde quer que você olhe. Veja por exemplo outro polêmico nomeado do governo, John Bolton, cuja indicação ao cargo de representante dos EUA na ONU ainda periga ser rejeitada pelo Senado por sua péssima conduta gerencial passada (fora o fato de que ele já disse várias vezes odiar a ONU e achar o órgão irrelevante). Segundo o empresário pornô Larry Flynt, há várias testemunhas de que Bolton era freqüentador assíduo do clube de swing (sexo entre mais de um casal) Plato's Retreat, nos anos 70 e 80, sendo esse o motivo da separação de sua primeira esposa, Christina.

Thursday, May 12, 2005

Os homens que dizem sim

Foram eles que levaram George W. Bush a proferir sua infame frase "There ought to be limits to freedom." The Yes Men, dois militantes anti-globalização, anti-corporate crap, fizeram durante a campanha de 2000 o site gwbush.com, que era uma cópia perfeita do site oficial republicano, só que com mensagens sarcásticas de crítica pesada a Dubya. A partir disso, eles resolveram fazer um spoof do site da Organização Mundial do Comércio (WTO). Tanta gente acredita ser esse o verdadeiro site da WTO, que os Yes Men já foram convidados para dar várias conferências para organizações comerciais e universidades em várias partes do mundo. Em vez de admitir que o site é um hoax e negar o convite, os pranksters americanos Mike Bonnano e Andy Bichlbaum preparam suas palestras e viajam de bom grado à Áustria, Finlândia ou Austrália vestidos como um típico executivo da WTO. Nessas apresentações, em vez de fazerem críticas explícitas à globalização ou à exploração dos trabalhadores do Terceiro Mundo, The Yes Men apresentam, na maior cara dura, idéias ultrajantes que acreditam ser o verdadeiro objetivo das grandes corporações internacionais e dos países ricos, cujos interesses são defendidos pela organização. O objetivo deles é desafiar a platéia (será que vão se indignar, ou vão aceitar uma apresentação que defende a reciclagem de merda para hambúrguer, ou que a escravidão não devia ter sido abolida por lei, mas sim pela evolução natural do mercado capitalista, como sendo realmente idéias possíveis?) Bonnano e Bichlbaum chamam seu trabalho de "correção de identidade", ou seja, eles são impostores que estão mostrando a verdadeira identidade dos sujeitos que imitam.

Talvez não seja surpreendente que muitas dessas platéias considerem legítimos os projetos fake da dupla, como a teoria do Acceptable Risk, determinando o índice de mortes aceitável por uma empresa quando se tenta atingir o máximo de lucro. Na pele de falsos representantes da Dow, The Yes Men foram aplaudidos por banqueiros ingleses há um ano atrás, quando apresentaram essa teoria numa palestra, munidos inclusive de um esqueleto dourado chamado Gilda. O convite a essa palestra foi feito através de outro site falso deles, o dowethics.com, que também enganou a BBC inglesa. Bichlbaum, que já tinha aparecido no canal americano CNBC falando absurdos na pele de um suposto relações públicas da WTO após os protestos na Itália anos atrás, aparece na televisão inglesa, desta vez, como Jude Finisterra, "porta-voz" da Dow, em novembro de 2004, no aniversário de 20 anos do acidente de Bophal, provocado pela Union Carbide (sub da Dow). Finisterra afirma então, na entrevista ao vivo, que a Dow "assume total responsabilidade pelo acidente e pretende limpar a área e compensar as vítimas". Só duas horas depois a verdadeira Dow soube da falsa entrevista e desmentiu essa afirmação, sendo obrigada a dizer que "a Dow não vai compremeter NENHUMA soma de dinheiro para compensar e tratar as vítimas que precisarão de cuidados médicos para o resto da vida, o compromisso da Dow é com seus acionistas" (as ações da Dow caíram depois que Finisterra afirmou que 12 bilhões seriam dedicados à reparação do local e das vítimas) etc.

Quem estiver curioso em saber mais sobre a audaciosa dupla e seu time de colaboradores, pode visitar os links acima ou ver o divertido documentário The Yes Men, já disponível em DVD no mercado americano.

Wednesday, May 11, 2005

Conservadorismo como problema psicológico

"O conservadorismo como patologia - Eleitores de Bush são literalmente insanos?"

Esse divertido artigo da Slate comenta um estudo americano sobre o que leva um ser humano a adotar posturas conservadoras. O colunista Timothy Noah se interessou pelo texto para tentar entender o que leva pessoas da classe trabalhadora a votarem em Bush, embora sua situação financeira só tenha piorado, e o governo tenha como um dos pilares de sua política econômica o alívio de impostos para os ricos.

A base psicológica para o conservadorismo seria a busca de formas de superar grandes medos, ameaças e incertezas, além de uma intolerância à ambigüidade -- não é à toa que isso encontra eco nas classes baixas americanas, e o governo Bush conseguiu vencer a eleição na base do fear-mongering ("Scary Kerry", "Se Kerry ganhar vai haver um ataque terrorista", "Quem está contra mim está contra os EUA", "Eles são evildoers" e assim por diante). Pessoas intimidadas pelo desconhecido, pelo diferente, e que costumam ver tudo preto no branco, tenderiam a ser mais suscetíveis ao discurso de políticos reacionários.

O estudo, chamado "Political Conservatism as Motivated Social Cognition", enfureceu os republicanos nos EUA, e eles ficaram ainda mais tiriricas quando souberam que o estudo tinha sido em parte financiado por institutos federais de pesquisa (NSF e NIH).

Tuesday, May 10, 2005

Mercado de trabalho para blogueiros

Depois do sucesso da campanha grassroots pela Internet promovida por Howard Dean, com a ajuda de blogs como o Daily Kos, agora os políticos americanos candidatos a futuras eleições estão contratando blogueiros como consultores de campanha. Neste post do Swing State Project, Bob Brigham também comenta que ter um bom blog é uma ótima forma de se expor para conseguir empregos bacaninhas, como o cara que começou o blog Hamster como estudante universitário, e foi contratado agora para o site da Rádio Air America e o blog do Al Franken (ator e escritor bestseller da esquerda americana).

E no Brasil, alguém conhece algum blogueiro que conseguiu um emprego ou oportunidade de ouro por causa do seu blog?

Estou disponível para convites. Posso batalhar uma entrevista com o Schwarzenneger, ele é meu vizinho. Mas não aceito pagamento em merrecas novas ou narjaras turettas.

Monday, May 09, 2005

Blogs informativos x mesa de bar

Eu hesitei em comentar essa coluna do Pedro Dória porque cita o meu blog, mas já vi que a discussão começou a rolar no Soy Loco por Ti, também citado, e no Intelligentsia, então resolvi continuar o debate. Eis um trecho do texto de Dória:

"E, no entanto, apesar de em grande número, o grosso dos blogs brasileiros continua ainda nesta fase: uma grande conversa de bar. Na segunda colocação, e são muitos, há também os blogs literários, de escritores que já se lançaram ou querem se lançar pela rede. Não há nenhum problema nisso, cada um escreve sobre o que quer. Mas são raríssimos, contam-se nos dedos, os blogs informativos. O porquê é um mistério."

Para Luiz, do Soy Loco por Ti, blogs informativos não têm que ser feitos exclusivamente por jornalistas, "mas esses é que tenderiam a começar o processo, por terem treinamento pra isso". No entanto, a maioria dos jornalistas brasileiros, que trabalham horas longas e estressantes, dificilmente estariam dispostos a se dedicar a um blog intensivo e diário nas suas poucas horas livres. A possibilidade de deixarem seus empregos tradicionais e se sustentarem trabalhando apenas no blog, como alguns jornalistas-blogueiros americanos estão fazendo, aqui também seria mais difícil -- o menor número de leitores de blogs políticos brasileiros talvez não possibilite ainda uma renda alta com anúncios. Mas eu acho que há um bom número de jornalistas freelancers ou assessores de empresa com carga horária mais leve, que poderiam dar conta do recado.

Tanto André Lopes do Intelligentsia quanto Luiz, ao contrário de Dória, acreditam que já há muitos e bons blogs informativos na blogosfera brasileira (ou blogoseira, como diz o Smart, um que faz um ótimo blog informativo e não foi citado nessa coluna do No Mínimo.) Bem, o meu blog foi citado como sendo informativo, mas confesso que dependendo da semana, o ingrediente "mesa de bar" fica mais forte no mix do Stuck in Sac... Senti-me até culpada ao ler a coluna, putz, de repente não estou cumprindo o meu papel como devia, resvalando às vezes para posts pessoais, mas de qualquer forma sempre busco colocar um link informativo ou uma opinião política em cada entrada diária.

Com a palavra, os ilustres leitores.

Saturday, May 07, 2005

Filho "atachado" nas ancas

Meu filho nasceu em setembro de 2003 com uma característica bem marcada: adorava um colo. Ainda na maternidade, se ele chorasse, bastava pegar no colo que ele ficava feliz, era capaz de até estar passando fome, mas nos meus braços, já tava bom. Nos primeiros meses, se ele estivesse acordado, não aceitava ficar deitado sozinho de forma alguma, eu tinha que carregá-lo enganchado nas ancas ou nos braços para onde quer que eu fosse. Aprendi a fazer tudo com uma mão só (ele detestou o sling e o baby carrier), e várias vezes o amamentei enquanto mandava e-mails (catando milho com a mão direita) ou enquanto almoçava. Obviamente, esse comportamento agarrado se repetia à noite. Ele acordava sozinho no berço e chorava desesperado. Mamar não fazia diferença; só dormia de novo se fosse deitado na nossa cama.

Minha sogra, ao ver isso, disse que eu tinha que parar de "acostumar mal" o meu filho a ser tão dependente de colo. O pediatra dele sugeriu o método de deixar a criança chorando no berço sozinha, e voltar a cada dois, cinco, sete, dez, vinte minutos, até ele cansar e dormir, e um dia ele aprenderia a dormir sozinho.

Mas eu segui o meu instinto, que era o seguinte: se meu filho está querendo o meu calor e carinho, e eu estou disponível, por que negar isso a ele? Por que a crueldade de deixar um bebê chorando, sem que ele tenha a menor culpa da sua vontade de ser acalentado? Acabei descobrindo que em contraponto ao método de largar o bebê chorando sozinho, há a filosofia do Attachment Parenting. Criado pelo pediatra americano William Sears e sua mulher, enfermeira Martha Sears, que tiveram 7 filhos, o conceito de Attachment Parenting estimula os pais a forjar um forte laço de aproximação e confiança com seu bebê, de dia e de noite. Contrariando todos os livros americanos de "sleep training", eles disseram que dormir com o neném na mesma cama é uma ótima solução para algumas famílias, ou então colocar um pequeno berço co-sleeper do lado da cama dos pais.

Meu marido ainda não tem certeza se o melhor teria sido aplicar o método "let the baby cry it out". Nosso filho tem 1 ano e meio e ainda acorda no meio da noite no berço, chorando e querendo ir para a nossa cama. Mas eu ainda acho que tomamos a melhor decisão. Toda vez que acordo e vejo aquela carinha linda do meu lado, sinto a sua pele inacreditavelmente macia, penso que prefiro aproveitar esse momento com ele aqui do que estar separada a noite inteira, com ele no outro quarto. Afinal, por quanto tempo mais ele terá aquelas bochechas redondas, a cabeça quase careca, aquelas mãozinhas rechonchudas, que gostam de tocar o meu rosto até ele cair no sono? O tempo voa e daqui a poucos anos ele não vai querer nem olhar para trás quando eu deixá-lo na escola ou na casa de um amigo. Vai fugir dos meus beijos e abraços, trancar-se em seu quarto cheio de segredos. Vai chegar o tempo - mais rápido que eu gostaria - em que ele vai dormir sozinho sem medo em sua própria cama. Enquanto isso, eu me espremo feliz no canto direito da cama para que ele se aconchegue tranqüilo, ao lado da Mamí e do Daddí.

Friday, May 06, 2005

Brasil rejeita U$ 40 mi dos EUA para abstinência

O Bruno me passou essa notícia e não tinha como não postar, pois tem tudo a ver com o que temos discutido aqui sobre o fanatismo talibânico do governo Bush:

Os Estados Unidos estavam em negociações com o Ministério da Saúde brasileiro para a distribuição de verbas destinadas ao controle da AIDS, num total de U$ 48 milhões até 2008, dentro de um programa de grants já oferecido a vários países. O problema é que o acordo obrigaria o Brasil a usar o dinheiro em programas que pregassem a abstinência sexual (em vez de promover o uso da camisinha) e também a incluir uma cláusula condenando a prostituição.

Diante dessas condições, o Programa Nacional de Combate à AIDS, dirigido pelo epidemiologista Pedro Chequer, preferiu mesmo rejeitar o dinheiro americano. "Não podemos controlar o HIV com princípios que são... teológicos, fundamentalistas e xiitas", declarou Chequer, que é formado na UC Berkeley, e tem extensa experiência na direção de programas de AIDS no Brasil, na Rússia e em Moçambique.

O programa brasileiro contra a AIDS vai muito bem, obrigado, e é considerado um modelo para os países em desenvolvimento. A taxa de contaminação por HIV tem se mantido baixa, em 0.6%, contrariando estimativas de que esse número iria dobrar em 2005. O sucesso do programa é atribuído à distribuição gratuita de remédios anti-HIV e de camisinhas, e à comunicação aberta e acolhedora com gays, prostitutas e usuários de drogas injetáveis.

Wednesday, May 04, 2005

Jeb Taleban Bush

O seu sangue já ferveu de raiva hoje? Então me diga se você não sentiu absoluta revolta ao ler essa história que eu vou contar. Jeb Bush, governador da Florida e irmão do preznit, esteve envolvido durante toda a última semana numa batalha judicial tentando impedir uma órfã de 13 anos, grávida, de fazer um aborto. A menina, que vive sob custódia do estado em foster care, havia comunicado o seu desejo de não levar a gravidez adiante à sua assistente social. Depois que o Estado resolveu impedir o aborto na Justiça, a menina disse ao juiz: "Eu não acho que eu deva ter um bebê agora, pois tenho apenas 13 anos, vivo num abrigo e não posso ter um emprego". Ou seja, uma menina de 13 anos parece ter mais maturidade e sabedoria que o imbecil do Governador Bush, que acha mais certo impor a gravidez e maternidade a uma criança. Isso me dá vontade de gritar de ódio. Se eu morasse na Flórida, já teria ido ao palácio do governador protestar e jogar tomates.

Jeb Bush tem tentado interferir judicialmente em uma série de casos particulares (como o de Terri Schiavo) numa cruzada para defender o que ele chama de "santidade da vida". Atribuindo-se o papel de portador da moral e da verdade divina, Jebush se acha no direito de impor um modo de vida à população de seu estado. E, claro, com o aval do seu irmão presidente e de seu partido Republicano podre. Obviamente, eles estão pouco se lixando para a vida e os sentimentos das pessoas envolvidas, e mais interessados no ganho político que terão com eleitores conservadores. O memo do Partido Republicano falando sobre os benefícios políticos que se teria com o Congresso interferindo no caso Terri Schiavo foi apenas uma prova do que já sabíamos. O que eles não esperavam foi a rejeição da maioria do povo americano sobre a interferência dos políticos na decisão judicial sobre a moça em coma. Também não duvido que a radicalização fanática de Jebush na Florida acorde alguns eleitores moderados sobre a ameaça que os neocons representam à liberdade e aos direitos humanos nesse país.

Felizmente, no caso da menina em questão, a Justiça da Flórida anteontem acabou permitindo a realização do aborto, acreditando que ela tinha competência para tomar essa decisão. Jebush apelou da decisão, mas ontem anunciou que estava desistindo dessa batalha judicial. Mas o ditadorzinho não vai parar por aí. Está tentando modificar os estatutos do Departamento de Crianças e Famílias da Florida de forma a impedir a liberdade de menores sob custódia de realizarem abortos.

Tuesday, May 03, 2005

Fechem as frronteeirrass, diz Schwarzie

O dublê de ator e governador da California, Arnold Schwarzenegger, tem visto sua popularidade despencar ao nível mais baixo (40%) desde que assumiu o cargo em novembro de 2003 (com mais de 60% de aprovação). Pensou que o governo do Estado seria mais um veículo para seu ego hollywoodiano invencível, e começou a comprar brigas com quem não devia. Primeiro, foi com os sindicatos de enfermeiras, policiais, bombeiros e professores, ao tentar mexer nos planos de pensão e salariais destas categorias. Os sindicatos se uniram em uma campanha constante de anúncios e protestos de rua contra o governador nos últimos dois meses, e foram bem sucedidos o suficiente para ganhar apoio popular e fazê-lo recuar nos cortes pretendidos. Agora, a partir da semana passada, Schwarzenegger provocou revolta entre a enorme população latina da California e progressistas americanos, ao embarcar na campanha racista da direita contra a imigração ilegal. Ele afirmou inclusive ser a favor dos patrulheiros voluntários nas fronteiras do Arizona, os chamados "Minutemen", que são rechaçados até pelo governo Bush como sendo vigilantes. "I say, close the borrrders", afirmou o austríaco Schwarzie, que também chegou aqui como imigrante-turista em 1968. Mas a questão é que o movimento da direita nativista americana tem como alvo os imigrantes não-europeus.

Um billboard (cartaz outdoor) de um canal latino de TV em Los Angeles, que riscava a palavra California (CA) e a substituía por México, provocou a ira dos brancos supremacistas que temem a "latinização" da população americana. Movimentos racistas como o Save Our State e Americans for Legal Immigration PAC (ALIPAC) organizaram um protesto e colocaram uma bandeira americana sobre a palavra "Mexico" no cartaz.

O ataque aos imigrantes sob o véu de "política contra a imigração ilegal e em nome da segurança nacional contra o terrorismo", também já encampado pelo Bill Oh, Really?, quer dizer, O'Rilley, da Fox News, é chamado de racista e política de apartheid até por um proeminente republicano, o Professor de Direito da UCLA e blogueiro Prof. Bainbridge. Afinal, os EUA foram feitos desde o início por imigrantes ilegais, seja da Europa, da Ásia, África ou América Latina, que na esmagadora maioria chegam aqui na esperança de obter trabalho e uma vida decente. Enquanto esse país for o mais rico do mundo, haverá imigrantes chegando. Para entrar legalmente, só quem já vem casado com um americano ou convidado por alguma empresa grande para trabalhar -- uma minoria insignificante dos imigrantes segue esse figurino. Os latinos, especialmente mexicanos, são a grande força de trabalho e diria até a alma da California. Tentar varrê-los daqui não passa de uma tentativa racista de limpeza étnica, e economicamente um equívoco dos grandes. Tomara que o Schwarzie insista nessa burrice e despenque para sempre nas pesquisas de opinião. Hasta la vista, baby!!!

Monday, May 02, 2005

Pentágono obrigado a divulgar fotos

Há um ano, a funcionária de uma empresa aérea americana trabalhando no Kwait fotografou dezenas de caixões de soldados americanos mortos no Iraque, cobertos com a bandeira dos Estados Unidos. As belíssimas e tocantes fotos foram parar na Internet, causando a demissão desta fotógrafa, Tami Silicio, porque o Pentágono proibia a tomada e divulgação de fotos de caixões de soldados. O episódio gerou uma grande polêmica na sociedade americana; muitos perceberam isso como uma tentativa do governo de esconder a verdade sobre a guerra do Iraque. Uma a uma, as redes de TV e os grandes jornais do país foram começando a exibir as imagens dos caixões, com exceção da covarde e governista Fox News, que alegou estar seguindo as regras do Pentágono, e que mostrar os caixões era "ofensivo aos parentes dos mortos" - mas é claro que a Fox não mostrou essas imagens porque resiste em revelar o verdadeiro desastre da guerra do Iraque, e pinta o conflito como uma empolgante missão patriótica.

Em 28 de abril, o Pentágono finalmente foi obrigado a divulgar publicamente o seu acervo de fotos de cerimônias de honra a soldados mortos em guerras, dentro do Freedom of Information Act. Isso foi resultado de uma ação na justiça impetrada por um cidadão comum, o professor de jornalismo na Universidade de Delaware e ex-correspondente da CNN Ralph Begleiter.

Vamos pensar qual será o impacto dessas fotos hoje. Com dois anos de guerra e milhares de soldados americanos mortos (e muitos outros milhares de iraquianos e cidadãos de outras nacionalidades também perdendo a vida devido ao conflito), o povo americano parece anestesiado. Todo dia, há algum episódio de bombardeiro no Iraque com algumas dezenas de mortos, americanos ou não. E vida que segue. Os eleitores de Bush não sentem qualquer indignação, e continuam dirigindo seus SUVs e pickup trucks por aí com yellow ribbon magnets colados, entrando em drive-thrus para entupir suas artérias e se auto-infligir ainda mais brain damage ingerindo sanduíches-monstro.

De qualquer forma, a vitória da ação de Ralph Begleiter abre um precedente importantíssimo, para garantir o direito do público à informação sobre a realidade de uma guerra, e para mostrar que os cidadãos têm meios de fazer cumprir o exercício da democracia.